terça-feira, 3 de agosto de 2010

A TRAMA DA REDE (BRANDAO, C.R)

Carlos Rodrigues Brandão
I
Essa é a trama da rede:
o tecido das trocas que fabricam
o pano de uma rede de dormir
enreda o corpo do homem na tarefa
de criar na máquina a rede com a mão.

A armadilha do trabalho em casa alheia
engole o homem e enovela todo o corpo
no fio no fuso na roda na teia
do maquinário da manufatura
que produz o seu produto: a rede
e reduz o corpo-operário à produção.
[...]

III
O corpo-bailarino que transforma
a coisa bruta em objeto
(a fibra em fio e o fio em pano)
e o objeto na mercadoria
(o pano pronto na rede e sua valia)
transforma o corpo do homem operário
em outro puro objeto de trabalho
pronta a fazer e refazer no fuso
aquilo de que a fábrica faz sua riqueza
de que, quem faz não se apropria.
[...]

VII
Sob a trama do trabalho em tear alheio
o corpo não possui seu próprio tempo
e é inútil que lhe bata um coração.

O relógio interior do operário
é o que existe na oficina, fora dele,
de onde controla o tear e o tecelão.

VIII
De longe o dono zela por quem faz:
pela força do homem que trabalha,
não pela vida do trabalhador.
Aqui não há lugar para o repouso
ainda que o produto do trabalho
seja uma rede de pano, de dormir
e que comprada serve ao sono e ao amor.

IX
Durante a flor da vida inteira
fazendo a mesma coisa e refazendo
uma operação simples de memória
o operário condena o próprio corpo
a ser tão automático e eficaz
que domine o gesto que o destrói.
A reprodução contínua, diária, igual
de um mesmo gesto repetido e limitado
todos os dias, sobre os mesmos passos,
ensina ao artesão regras de maestria
do trabalho que afinal então domina
através de saber sua ciência
com a sabedoria do corpo massacrado.
[...]

XI
Quem fia e enfia?
Quem carda e corta?
Quem tece e trança?
Quem toca e torce?
A moça o menino.
A velha o homem.
Eles são, artistas,
parte do trabalho coletivo
que faz a trama da rede
e a rede pronta:
o objeto bonito do descanso
que inventa a necessidade
da servidão do trabalho
do corpo produtivo.

XII
A dança ritmada desse corpo
de bailarino-operário de um ofício
de que o produto feito não é seu,
cria o servo de quem lhe paga aos sábados
Para o que sobra da vida de trabalho
do corpo de quem fez e não viveu.
O trabalho-pago, alheio e sempre o mesmo
obrigando o operário bailarino
à rotina de fazer sem possuir
torna-o, artista, servo do ardil
de entretecer panos e redes sem criar
e recriar-se servo sem saber.
[...]

XIV
Não conhece descanso o corpo na oficina.
Ele é parte das máquinas que move
e que movidas não sabem mais parar.
Os pés descalços prologam pedais
os braços são como alavancas
e as mão estendem pontas de um fio
que existe no fuso e no tear.

O trabalho do corpo é o objeto
que o homem vende ao dono todo o dia.
O corpo-livre pertence ao maquinário
que o homem converte no operário
de que retira o preço do sustento:
a comida a cama a casa o agasalho
o que mantém vivo o corpo e o seu trabalho.


______________
Fontes: (SÃO PAULO-SEE, Caderno do professor: Sociologia, EM, 2ª S., V.3, 2009, pp.07-08)

28 comentários:

  1. eu achei interessante pois nunca vi algo engraçado como isto

    parabens por seu trabalho

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  2. obrigado pelo texto,ajudou no meu trabalho de filosia

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    Respostas
    1. NÃO É FILOSIA ANTA! É FILOSOFIA

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    2. Folosia? Parabéns vc é o jumento Celestino KKKKKKK
      Filosofia animal

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    3. Galera, só foi um erro... Tenho certeza que ela não fala "filosia". Às vezes pode ter sido o corretor ou falta de atenção mesmo, não precisa ofender ninguém por conta disso.

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  3. muiito legaw esse poema ....
    vaii ajuda no meu trabalho de filosofia!!

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  4. Fique a vontad.
    ATé mais.
    Prof.FredBandeira

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  5. muito bom gostei do poema
    me ajudou com o trabalho de sociologia
    =p

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  6. Olá Professor Bandeira!

    Estou fazendo um trabalho de Filosofia e preciso desse poema, mas parece que ele não está completo... Você poderia me ajudar? Aguardo contato.

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  7. Olá Richard,
    para efeitos de trabalhos didáticos a que se propõe, o texto é o bastante para o Ensino Médio. Então, esse conteúdo é o todo que dispomos. Até mais.

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  8. Ok. Muito obrigado professor. Pela resposta rápida e pela disponibilização do texto para nós. Será, para nós, de grande ajuda.

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  9. alguem pode falar uma dissertação pequena do poema? Quero entender melhor....obrigado .

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  10. Nossa eu gosteii demais dessa sua historia de amor, muiito boom, bjos

    By: Guuqueiroz frango

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  11. gostaria de uma critica sobre esse poema

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  12. bom prof preciso de uma critica sobre esse poema.

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  13. Caro Samuel,
    o intuito do blog é a divulgação dos textos e servir como subsidios às pesquisas; eventualmente surge algum comentário que ajuda a outro comentário, formando uma rede de conhecimento. Se você precisa de algo mais pessoal (como você menciona), sugiro contato com grupos de discussão. Até mais.

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  14. alguem pode me fala o significado destes poema...

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  15. Caro Fred, sou o Odair, de Santa Bárbara, não sei se lembra de mim. Buscando um texto para preparar uma aula, encontrei seu blog. Parabéns.

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  16. Caro Odair,
    fique a vontade!
    Quanto à lembrança, não posso dizer segurante que me lembro, pois apenas essas duas pistas (nome e cidade) não me facilita as coisas.
    Quanto a material de apoio, se você precisar de mais alguma coisa, não exite em pedir. Ate mais.

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  17. meuuuuuu delssss nao tendi nada disso ....muito estranho...mais ajudo no meu trabalho de sociologia..wlw

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  18. muito legaal,me ajudou a fazer o trabalho de filosofia!

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  19. obrigado vai me ajudar no trabalho de sociologia

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  20. Ajudou o meu trabalho de sociologia vlw mesmo heim

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  21. Que texto interessante me ajudou muito,obrigada por terem postado este poema.

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  22. Estou sendo obrigada a ler esse texto por causa da minha professora de Sociologia, socorro, beijos p.s: help

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  23. me ajudem a explicar oque entende sobre o canto I,III,VII,VIII,IX,XI,XII,XIV, do poema "A trama da rede" de Carlos Rodrigues Brandao.

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