Cada povo tem um processo de educação pelo qual transmite a cultura, seja de maneira informal ou por meio de instituições como a escola. No entanto, nem sempre o homem reflete especificamente e de maneira rigorosa sobre o ato de educar. Muitas vezes a educação é dada de maneira espontânea, a partir do senso comum, repetindo-se costumes transmitidos de geração para geração.
A teoria, contudo, é necessária para que se supere o espontaneísmo, permitindo que a ação educacional se torne mais coerente e eficaz. Aliás, é bom lembrar que, segundo o conceito de práxis, a teoria não se separa da prática, que é o seu fundamento. Isso significa que ela não se desliga da realidade, mas nasce do contexto social, econômico e político em que vai atuar. Quanto mais rigorosa for, mais intencional será a prática.
Se a filosofia é uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto que se faz a partir dos problemas propostos pelo nosso existir, é inevitável que entre esses problemas estejam os que se referem à educação. Portanto, cabe ao filósofo acompanhar reflexiva e criticamente a ação pedagógica, de modo a promover a passagem "de uma educação assistemática (guiada pelo senso comum) para uma educação sistematizada (alçada ao nível da consciência filosófica) (SAVIANI, Educação: do senso comum à consciência filosófica, p.54).
A partir da análise do contexto vivido, o filósofo indaga a respeito do homem que se quer outros, já decadentes, e quais os pressupostos do conhecimento subjacentes aos métodos e procedimentos utilizados. Como se vê, destacamos aí os três aspectos - antropológico axiológico e epistemológico [...].
Cabe à filosofia, entre outras coisas, examinar a concepção de homem que orienta a ação pedagógica, para que não se eduque a partir da noção abstrata de "criança em si", de "homem em si". Da mesma forma, não há como definir objetivos educacionais se não temos claros o valores que orientam nossa ação. O filósofo deve avaliar os currículos, as técnicas e os métodos a fim de julgar se são adequados ou não aos fins propostos sem cair no tecnicismo, risco inevitável sempre que os meios são super-valorizados e se desconhecem as bases teóricas do agir.
Diante do avanço das ciências humanas, alguém talvez argumente que a filosofia da educação terá seu campo bastante restringido. Embora sejam importantíssimas as conquistas da psicologia e da sociologia, e delas muito tem se aproveitado a pedagogia, a filosofia tem ainda tarefas bastante específicas, que não podem ser desprezadas.
Além das análises antropológicas, axiológicas e epistemológicas acima referidas, a filosofia tem a função de interdisciplinaridade, pela qual estabelece a ligação entre as diversas ciências e técnicas que auxiliam a pedagogia. Por exemplo, é a análise filosófica que permite refletir a respeito do risco que representam os "ismos", ou seja, a preponderância de uma determinada ciência na análise dos fenômenos pedagógicos (o psicologismo, o sociologismo, o economicismo etc.) [...].
Tendo sempre presente o questionamento sobre o que é a educação, a filosofia não permite que a pedagogia se torne dogmática nem que a educação se transforme em adestramento ou qualquer outro tipo de pseudo-educação.
Concluindo, é necessário que a formação do pedagogo esteja voltada não só para o preparo técnico-científico, mas também para a politização e a fundamentação filosófica de sua atividade.
_______________FONTE: (ARANHA, M.L.A. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 1996)
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