sábado, 6 de dezembro de 2014

QUAL O SEU DESTINO?


Você certamente já tenha se perguntado sobre a sua origem, de onde você veio, como chegou até aqui e para onde você – está correto? Pois bem, talvez nunca se consiga dizer correta e concretamente uma resposta a essas perguntas, porém, pode-se arranjar pistas que apontem para umas saídas que amenizem esses questionamentos.
Antes, porém, será preciso lembrar que o mundo ocidental ou é devedor dos chineses (metade das coisas que se utiliza aqui foi feita na China) ou dos gregos (as palavras, gostos e pensamentos tiveram a origem lá na remota Grécia). A propósito, para ajudar nas questões existenciais acima, os gregos podem ajudar e muito, porque também eles se indispuseram e se sentiram incomodados em não chegar a uma resposta racional e redondinha para elas. No entanto, como expressão do mais alto grau de inteligência e uso da capacidade de o homem alcançar meios para satisfazer suas necessidades, eles criaram um sistema de pensamento que dava conta da maior parte de seus porquês e senões. Este sistema de pensamento ficou conhecido com mitologia grega.
         Os gregos, religiosos por natureza, quando se deparavam com algum problema que não conseguiam resolver, voltavam-se aos deuses pedindo iluminação, pois acreditavam piamente na intervenção divina. E, para as questões existências (de onde vim, para onde vou...), localizaram numa tríade divina composta por mulheres as respostas satisfatórias para as suas inquietações. Essas mulheres ficaram conhecidas por Moiras.
         As Moiras, deusas supremas que a todos submetem e a ninguém eram submetidas, eram responsáveis pela vida, existência e morte de todos os seres, que dependiam de algum elemento para se manter vivo, sejam eles deuses, semi-deuses, heróis ou humanos.
         De comum aceitação entre os gregos, havia um lagar onde tudo era bom, era belo e de nada carecia. Neste lugar, conhecido como Poço das Almas, a pré-existência era garantida com todas as delícias, sortes e dons que qualquer alma possa desfrutar enquanto gozava da companhia de deuses e de outros seres dos Campos Elíseos. Lá, as almas viviam em tranquilidade, paz e harmonia sem que nada as aborrecesse e de todo o conhecimento participavam.
         Acontece que, de quando em quando, um ser divino passa pelo Poço e toma para si uma das almas e a coopta para pertencer ao seu reino. As Nereidas, ao tomarem para si uma alma, cooptam-na para povoarem e alegrarem as águas, desde as profundezas dos oceanos quanto as sutilezas dos ares. Imagine a diversidade de espécies e o trabalho dessas criaturas divinas ao separarem cada ser em um grupo de tal especialidade, de modo que dividam o mesmo espaço, com multicor esplendor e sequer atrapalhem umas as outras. Desde as minúsculas criaturas como o plâncton até a maciça baleia azul; desde as ínfimas partículas do átomo até as mais furiosas tempestades – tudo obra divina.
Se, no entanto, as Ninfas, ao passarem, recolherem uma alma, colocam-na em um novo ser pertencente ao Reino das Plantas e  Vegetais ou dos Animais, e esta alma passará a existência desfrutando das delícias de se bastar a si, como fazem as criaturas do primeiro reino, e ainda agregará a qualidade de poder sentir o que lhe rodeia. As Ninfas, com zelo e cuidado, desenham cada ramificação e cada cadeia de molécula de cada animalzinho; cada peninha e cada asinha das aves. Basta que essa alminha siga uma das Ninfas e ela será programada biologicamente para viver, reproduzir, perecer e voltar ao Poço.
A você, leitor, outra deusa foi responsável por resgatar a sua alma. Foi Átropos. A propósito, o fato de você se enquadrar como ser humano é uma dádiva de Átropos, porque dela deriva o ser humano, que do grego é ‘antropos’. É daqui que vem, para a Língua Portuguesa o termo ‘antropologia’: o estudo do ser humano.

Átropos é a responsável por pegar a alma do Poço e a ela atrela um cordão: o cordão da vida. Segundo os ditames dessa deusa, nenhum ‘antropos’ pode vir à luz sem que esse cordão seja tecido de tal maneira e cuidado, que é ali, naquele pequeno fio que a deusa já coloca inspirações, sexo, família, formato e características do novo ser. Mesmo que diante de toda bondade da deusa, as decisões dela são inflexíveis e irrevogáveis, isto é, para sempre. O ‘antropos’ pode apenas alterar, modificar, aumentar, diminuir, descolorir, mas deixar de ser, jamais. Átropos deixa a sua marca indelével em cada um daqueles que ela elege.
Acontece que Átropos não trabalha sozinha. Aliás, é um princípio grego de que nada do que existe e vive pode subsistir solitariamente. E após as dádivas de Átropos, sua irmã Clotos se encarrega da obra iniciada. Ela pegará o fio da vida e procederá com a extensão do fio, como se fosse uma linha do tempo.


É curioso também que uma das traduções de ‘Clotos’ é extensora, ou seja, a ela cabe estender o fio da vida iniciada por Átropos e definirá quais ocorrências e em quais tempos elas acontecerão na vida do ‘antropos’. Assim, não depende do homem querer controlar o que pode e o que não pode ocorrer em sua vida. Seria insano dizer que alguém pudesse querer que feridas, dores, perdas ocorressem em sua vida a determinado tempo. De outro lado, também não é de alçada do ‘antropos’ decidir o momento ou o tempo em que encontrará a sua alma gêmea – isso é obra de Clotos.
Clotos é tão cuidadosa que ela não designa nada a um ‘antropos’ que não lhe seja possível suportar. Aquilo que pode parecer insuportável, ela mesma garante que estará ao lado para sustentar e suportar o ‘antropos’ em tempos de penúria. De todas as maravilhas previstas por ela, ela também não aceita devolução ou não cumprimento do que cabe a cada um – ossos do ofício.
Uma vez que já foi falado do início da vida e do modo de viver, resta saber como ocorre o ocaso da vida. Esta função caberia a Láquesis, a última das deusas irmãs. Quando se diz que somente aos deuses caberia a hora da morte, então, o mais correto, é dizer que cabe à deusa essa decisão.

Láquesis é imparcial e não há nada no ‘antropos’ que a condicione em suas ações. Não importa se bom ou mal, se cumpriu ou não o que estava programado por Clotos. A hora última é de sua competência, e ela usará de todo e qualquer expediente para levar a cabo a sua intenção. É ela quem decide se um ínfimo engasgo pode ser fatal ou se a explosão das veias do corpo não passará apenas de uma complicação.
Assim, não é o ‘antropos’ que decide a hora ou como quer morrer, porque isso é dos domínios de Láquesis e dela, ninguém o suprime. Somente a ela cabe saber a hora de último suspiro, que não se adianta nem se atrasa. É ali, no ponto certo!
Do nome grego ‘Láquesis’, na Língua Portuguesa se tem ‘laqueadura’, que é justamente a interrupção do ciclo da vida.
Apesar de o termo ‘Destino’ soar mal aos ouvidos mais pudicos e incrédulos, há de se pensar algumas implicações que, tomando-o como certo e existente, alguns confortos enchem o espírito do ‘antropos’, a saber:
1º que todas as almas preexistem em um lugar bom e ao lado da divindade;
2º que mesmo antes de vir ao mundo, todo ‘antropos’ foi resgatado e querido pela divindade;
3º que mesmo sem nenhuma interrupção do mundo, a divindade escolheu família, sexo e deu uma missão a cada um, a saber: a felicidade;
4º que todas as ações do ‘antropos’ já são conhecidas pela divindade, as direitas e as tortas, e mesmo assim, a divindade quer para si toda e qualquer alma que dela saiu;
5º que nada que acontece com o ‘antropos’ é desconhecido da divindade;
6º que o final de cada um, inclusive a hora, é um desígnio da divindade e de ninguém mais;
7º aqueles que saíram da divindade tendem a voltar para a divindade.

E por esses sete motivos, não há como não ponderar com maior acuro o que os gregos pensaram. 
E você já pensou no seu destino?

Fbandeira
jun/2014


6 comentários:

  1. Por favor pode me esclarecer a questão qual a importância do conceito , não só no pensamento de Sócrates ,mas para a filosofia nascente ?

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    1. Deixe-me ver se entendi: você me pergunta sobre conceituar algo? Se esta for a sua questão, então lhe direi que [quase] tudo o que temos ou conhecemos, nós nos aproximamos através daquilo que denominamos "conceito", isto é, a ideia que temos da coisa, antes mesmo de tê-la frente a nós. A quem conteste a ideia de que 'conceito' derive das sensações e também os que contestam que proceda da 'reflexão', mas aí já é outra questão. Até mais.

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    2. e que relação isso faz com a filosofia nascente

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    3. Falar de conceito, ou melhor, de conceituar algo, é fazer apelo à verdade que reside na coisa. Ao grego, sobretudo, verdade é traduzido como aletheia, o ser da coisa. Assim, ao se conceituar, pretende-se dizer o que há de verdade na coisa em si. Quando se diz que algo é uma coisa, diz-se que aquela coisa é aquela coisa em específico e não outra. A filosofia nascente ao trabalhar com a noção de conceito (de verdade da coisa) encerra as possibilidades existentes no pensamento mitológico, não como ruptura, senão como padronização de algo - se assim puder ser exemplificado. Até mais.

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  2. por favor me esclareça sobra qual a importância do conceito , não só no pensamento de Sócrates ,mas para a filosofia nascente ?

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  3. Tá ai, quando pensamos em destino nos passa o conforto que já está tudo certo para acontecer, nos livrando de culpas, erros... Pois Clotos já havia planejado tudo estamos apenas cumprindo com o roteiro.

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