quinta-feira, 25 de agosto de 2011

LEI AUREA

Declara extinta a escravidão no Brasil:
A Princesa Imperial Regente, em nome de Sua Majestade o Imperador, o Senhor D. Pedro II, faz saber a todos os súditos do Império que a Assembleia Geral decretou e ela sancionou a lei seguinte:
Art. 1.º: É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil.
Art. 2.º: Revogam-se as disposições em contrário.
Manda, portanto, a todas as autoridades, a quem o conhecimento e execução da referida Lei pertencer, que a cumpram, e façam cumprir e guardar tão inteiramente como nela se contém.
O secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas e interino dos Negócios Estrangeiros, Bacharel Rodrigo Augusto da Silva, do Conselho de Sua Majestade o Imperador, o faça imprimir, publicar e correr.
Dada no Palácio do Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1888, 67.º da Independência e do Império.
Princesa Imperial Regente.
Rodrigo Augusto da Silva
Carta de lei, pela qual Vossa Alteza Imperial manda executar o Decreto da Assembleia Geral, que houve por bem sancionar, declarando extinta a escravidão no Brasil, como nela se declara. Para Vossa Alteza Imperial ver. Chancelaria-mor do Império - Antônio Ferreira Viana.
Transitou em 13 de maio de 1888.- José Júlio de Albuquerque.
 
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nota 1.: A transcrição da lei acima já está na ortografia atual. A lei n.º 3.353, (cujo projeto de lei foi apresentado à Câmara dos Deputados por Rodrigo Augusto da Silva, ministro dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas e interino dos Negócios Estrangeiros, deputado e depois senador) de 13 de maio de 1888, que não previa nenhuma forma de indenização aos fazendeiros; 
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nota 2.: Aprovada com 85 votos favoráveis e 9 votos contrários na Câmara Geral (Câmara dos Deputados), e um contrário no Senado do Império, foi à sanção da regente Dona Isabel, em 13 de maio. A única alteração do projeto de lei do governo, feita pela Câmara Geral, foi introduzir no texto a expressão "desde a data desta lei", para que a lei entrasse em vigor imediatamente, antes de ser publicada nas províncias, o que costumava levar um mês, no mínimo.
 
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FONTES: (http://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_%C3%81urea; http://www.algosobre.com.br/historia/lei-aurea.html)

terça-feira, 16 de agosto de 2011

O XADREZ DA CULTURA – Lévi-Strauss


O XADREZ DA CULTURA – Lévi-Strauss

Claude Lévi-Strauss (* Bruxelas, Bélgica – 28 de novembro 1908 d.C + Paris, França – 31 de outubro de 2009 d.C
Antropólogo francês, considerado um dos grandes intelectuais do século XX.
Citações

“O antropólogo é o astrônomo das ciências sociais: ele está encarregado de descobrir um sentido para as configurações muito diferentes, por sua ordem de grandeza e seu afastamento, das que estão imediatamente próximas do observador”. Antropologia Estrutural, 1967.


Em 1952, a pedido da Unesco, ele escreveu um artigo chamado Raça e história, em que criticava a ideia de raça e o etnocentrismo entre os povos, além de outros pontos.
Para falar sobre a ideia de que existiram culturas que não se moveriam ou se transformariam e o etnocentrismo, ele deu o exemplo do deslocamento do cavalo no jogo de xadrez.
Tal qual um jogo de xadrez, na qual as peças se movimentam pelas casas pretas e brancas, cada uma delas caminham de maneira diversa uma das outras: a torre em linha reta; o bispo na diagonal; o peão somente para frente, e o cavalo, aos saltos, somente caminha em ‘L’.
De forma análoga, as culturas, por serem diversas, também se desenvolvem como jogo de xadrez. Tome-se o cavalo: as culturas andam em ‘L’, ou aos saltos; elas não andam todas em linha reta, sem seguem todas a mesma direção. Cada uma segue um sentido e uma linha de raciocínio que lhe é própria. Por esse motivo é equivocado considerar errada ou pouco evoluída a cultura que segue uma direção diferente da nossa, como se todas devessem seguir a mesma direção, como se todas devessem andar da mesma forma. Cada cultura tem seus interesses próprios e, assim, um ritmo, velocidade e direção de desenvolvimento que são seus. Não andam, ou se desenvolvem, em linha reta.
Para ilustrar a questão do objetivo ou das necessidades, em suma, o que é mais importante?
Para um pigmeu, mais importante do que saber quem descobriu o Brasil, ou quais são os tipos de climas do mundo, é saber quais plantas são comestíveis e quais são venenosas, quais podem ser usadas como remédio e quais não podem.
Para um brasileiro que almeja se tornar advogado, mais importante é adquirir os conhecimentos necessários para entrar na faculdade do que conhecer quais são as plantas venenosas numa floresta, pois não lhe será de muita utilidade.
Assim é que aquilo que é importante para um talvez nem seja relevante para o outro. Assim também funciona com as culturas: cada uma atinge o seu objetivo de uma maneira e tem objetivos diferentes.

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Fontes: (SÃO PAULO-SEE, Caderno do professor: sociologia, EM, 1ª S., V.3, pp.18-19; http://www.biografia.inf.br/claude-levi-strauss-antropologo.html)

O TREM DA CULTURA – Lévi-Strauss


O TREM DA CULTURA – Lévi-Strauss

Claude Lévi-Strauss (* Bruxelas, Bélgica – 28 de novembro 1908 d.C + Paris, França – 31 de outubro de 2009 d.C
Antropólogo francês, considerado um dos grandes intelectuais do século XX.
Citações

“O antropólogo é o astrônomo das ciências sociais: ele está encarregado de descobrir um sentido para as configurações muito diferentes, por sua ordem de grandeza e seu afastamento, das que estão imediatamente próximas do observador”. Antropologia Estrutural, 1967.

Em 1952, a pedido da Unesco, ele escreveu um artigo chamado Raça e história, em que criticava a ideia de raça e o etnocentrismo entre os povos, além de outros pontos.
Para falar sobre a ideia de que existiram culturas que não se moveriam ou se transformariam e o etnocentrismo, ele deu o exemplo do viajante do trem: imaginem que cada cultura é um trem e nós somos os passageiros. Nós olhamos o mundo a partir do nosso trem.
Mas os trens caminham em direções opostas, em diferentes velocidades. Um viajante verá de modo diverso um trem que vai ao sentido contrário, um trem que ultrapassa o seu ou outro que caminha em uma outra direção.
Qual é o trem que nós podemos olhas melhor?
Aquele que caminha mesma direção que o nosso e na mesma velocidade, ou seja, de forma paralela.
Mas, se cada trem é uma cultura, sabemos que as culturas não caminham todas na mesma direção e nem na mesma velocidade. Umas caminham mais rápido, outras caminhas em direções quase opostas. As culturas possuem formas diferentes de observar o mundo. Cada uma tem o seu caminho, a sua direção e a sua velocidade. Se uma nos parece para, isso ocorre porque não conseguimos compreender o sentido de seu desenvolvimento.
É aquela que caminha paralela à nossa que nos permite a melhor observação, e que nos fornece a autoidentificação. Mas quem é que pode dizer qual é a melhor direção? O caminho mais avançado? Será que o que parece parado para nós está realmente parado? Como saber?
Na verdade, com isso ele quis dizer que é muito difícil para alguém de uma determinada cultura querer avaliar alguém de outra cultura. Pois, já que a minha cultura é como um trem, muitas vezes não consigo enxergar e compreender o que se passa nos outros trens (nas outras culturas). Isso ocorre porque as culturas não têm todas elas as mesmas preocupações e nem os mesmo objetivos.
É mais fácil entender a cultura que mais e parece com a nossa, ou seja, aquela que anda de forma paralela à nossa, partilhando os mesmos interesses e a mesma direção. Mas, como as culturas são diferentes, se muitas vezes não conseguimos compreender uma delas, não é porque ela esteja parada, ou errada, e sim, porque a direção que ela toma muitas vezes não faz sentido segundo a nossa lógica de raciocínio.


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Fontes: (SÃO PAULO-SEE, Caderno do professor: sociologia, EM, 1ª S., V.3, p.18; http://www.biografia.inf.br/claude-levi-strauss-antropologo.html)

domingo, 14 de agosto de 2011

NEGRITUDE - SARTRE

NEGRITUDE - Jean-Paul SARTRE

A condição do negro está ligada ao racismo e à miséria. Considerando a população brasileira em geral, pode-se afirmar que raros são os casos nos quais os negros superam condição de pobreza ou mesmo de miséria e recebem notoriedade social.
A miséria causada pelo racismo e pelas políticas de Estado pós-libertação dos escravos e a despreocupação das autoridades geraram um contingente de excluídos ou marginalizados, que são reconhecidos pela mesma cor de pele, cabelo, lábios e cultura de raízes africanas - os negros.
A falta do mínimo necessário para a vida gerou e gera duas orientações: a revolta e a acomodação. A revolta pode ser política, isto é, negros e negras se encontram para discutir o que lhes faz sofrer e cobrar das autoridades a igualdade. A acomodação pode ser entendida como uma alienação. Muitos negros e negras simplesmente aceitam o papel que as elites lhes impuseram durante séculos - a de que eram trabalhadores braçais em situação precária. Por outro lado, a alienação pode gerar a vitimização: o indivíduo se vê sempre perseguido e incapaz de agir, o que resulta em baixa autoestima. Em consequência, os negros valorizam outras culturas, como a da hegemonia branca europeia.

Quer saber mais?
Siga o link:
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Fontes: (SÃO PAULO-SEE, Caderno do professor: filosofia, EM, 2ª S., V.3, pp.18-19)

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

CLAUDE LÉVI-STAUSS

Claude Lévi-Strauss
Personalidades - Antropólogos - Bégica - CLAUDE LEVI STRAUSS 01* Bruxelas, Bélgica – 28 de novembro 1908 d.C
+ Paris, França – 31 de outubro de 2009 d.C
Antropólogo francês, considerado um dos grandes intelectuais do século XX. é considerado o fundador da Estruturalismo em meados da década de 1950. É filho de pais franceses: Raymond Lévi-Strauss e Emma Lévy.
Personalidades - Antropólogos - Bégica - CLAUDE LEVI STRAUSS 1931
Em 1909, a família, de origem judaica, muda-se para Paris. Iniciou seus estudos em Direito e Filosofia na Sorbonne (Paris). Não completou os estudos em Direito, conseguido a licenciatura em Filosofia no ano de 1931. Após alguns anos de professorado em escolas secundárias ele aceitou o convite para integrar uma missão cultural Brasil.
Levi-Strauss integrou essa missão junto a outros professores, sobretudo franceses. A influência dessa comitiva que chegou a pedido do Governo Getúlio Vargas na década de 1930, é até hoje uma marcante influência na cultura intelectual da Universidade de São Paulo.
Levi-Strauss lecionou no Brasil de 1934 até 1938. Nesse período, o então jovem professor convidado realizou a primeira de suas poucas visitas acampo, pois a abordagem estruturalista que proporia alguns anos depois, justificaria esse distanciamento do objeto pelo Antropólogo.
Durante este período ele conduziu seu primeiro trabalho etnográfico de campo, realizando pesquisas no Mato Grosso do Sul e na Floresta Amazônica. Esta experiência que cimentou a identidade profissional de Lévi-Strauss como antropólogo. Sobre a forma como se decidiu pela vinda no Brasil, contou que estava em seu apartamento em Paris, tendo terminado o mestrado, quando um amigo o contatou e disse da possibilidade de ir para São Paulo, onde estava sendo formada a Universidade de São Paulo. Os arredores estão cheios de índios, e você vai poder continuar suas pesquisas, disse o amigo.
Retornou para a França em 1939 para tomar parte no esforço de guerra; após a capitulação francesa perante a Alemanha, Lévi-Strauss, judeu, viajou para Nova Iorque. Como muitos outros intelectuais emigrados, ele lecionou na New School for Social Research. Fundou, ao lado de Jacques Maritain, Henri Focillon e Roman Jakobson, a École Libre des Hautes Études, uma espécie de universidade-no-exílio de acadêmicos franceses.
Personalidades - Antropólogos - Bégica - CLAUDE LEVI STRAUSS São Paulo, em 1935
Os anos de guerra, passados em Nova Iorque, foram de formação para Lévi-Strauss, em varíos sentidos. Suas relações com Jakobson ajudaram-no a formalizar sua perspectiva teórica (ambos são considerados pensadores centrais do estruturalismo). Além disso Lévi-Strauss foi exposto à Antropologia estadunidense desenvolvida por Franz Boas, que ensinava na Universidade de Columbia. Após um período como adido cultural na embaixada francesa de Washington, Lévi-Strauss retornou a Paris em 1948. Foi então que recebeu seu grau de doutor pela Sorbonne, ao expôr (dentro da tradição francesa) duas teses, uma ‘maior’ e outra ‘menor’. Elas foram ‘Família e vida social entre os Nambikwara’ e ‘As estruturas elementares do parentesco’.
As estruturas elementares do parentesco foi publicada no ano seguinte, e instantâneamente consagrou-se como um dos mais importantes estudos de família já publicados. O título faz uma brincadeira com o título do livro de Émile Durkheim, As formas elementares de vida religiosa. Examina-se nesta obra a organização familial a partir da estrutura lógica das relações de parentesco, ao invés de seu conteúdo.
Enquanto antropologistas ingleses como Alfred Reginald Radcliffe-Brown argumentavam que o parentesco era baseado em um ancestral comum, Lévi-Strauss argumentava que o parentesco era baseado na aliança entre duas famílias que formava-se quando a mulher de um grupo casava-se com o homem de outro. Neste livro também é levantada a questão do incesto como marco da passagem do estado pré-cultural (ou da natureza) ao estado cultural no homem.
Ao longo do final da década de 1940 e começo da década seguinte Lévi-Strauss continou a publicar e experimentou considerável sucesso profissional. Em seu retorno à França ele envolveu-se com a administração do CNRS e do Musée de l’Homme, até ocupar uma cadeira na quinta seção da École Pratique des Hautes Études, aquela de ‘Ciências Religiosas’ que havia pertencido previamente a Marcel Mauss e que Lévi-Strauss renomeou para “Relição Comparada de Povos Não-Literados”.
Apesar de bem conhecido em círculos acadêmicos, foi em 1955 que Lévi-Strauss tornou-se um dos intelectuais franceses mais conhecidos ao publicar Tristes Trópicos, livro auto-biográfico e basicamente acerca de seu exílio na década de 1930.
Escola/tradição
Antropologia Estrutural(fundador), estruturalismo, sociologia francesa
Principais interesses
Antropologia, sociologia, etnografia, linguística, metodologia, estética, epistemologia, mitologia
Idéias notáveis
Mitografia , Pensamento Selvagem, estruturas do parentesco
Influências
Rousseau, Kant, Karl Marx, Sigmund Freud, Roman Jakobson, Saussure, Durkheim, Marcel Mauss, Malinowski, Radcliff-Brown, Franz Boas, Merleau-Ponty, Jean Paul Sartre
Pensadores influeciados pela obra de Strauss
Althusser, Bourdieu, Zizek, Lacan, Foucault, Derrida, Baudrillard, Sahlins, Jameson, Pêcheux, Umberto Eco, Jameson, Roland Barthes
Em 1959 Lévi-Strauss foi nomeado para a cadeira de Antropologia social do Collège de France. Por volta desse período publicou Antropologia estrutural, uma coleção de ensaios que oferece tanto exemplos como manifestos programáticos do estruturalismo. Começou a organizar uma série de instituições destinadas a estabelecer a Antropologia como disciplina de estudos na França, como o Laboratório para Antropologia Social e o jornal l’Homme, onde os pesquisadores publicavam o resultado de suas pesquisas.
Em 1962 Lévi-Strauss publicou aquele que para muitas pessoas é seu trabalho mais importante, O pensamento selvagem. Na primeira parte do livro ele descreve sua teoria da cultura e do pensamento, enquanto que na segunda parte expande suas considerações numa teoria da história e da mudança social. Esta parte do livro rendeu a Levi-Strauss um acalorado debate com Jean-Paul Sartre acerca da natureza da liberdade humana. O confronto entre as visões existencialista e estruturalista iria eventualmente inspirar jovens autores como Pierre Bourdieu.
Já como celebridade mundial, Lévi-Strauss passou a segunda metade da década de 1960 trabalhando em um projeto maior, um estudo de quatro volumes intitulado Mythologiques. Nele o antropólogo francês toma um mito localizado na ponta da América Central e acompanha suas variações de grupo a grupo ao longo da América Central e eventualmente no Círculo Polar Ártico, mostrando então como o mito se espalha de um pólo ao outro do continente. Faz isso de maneira tipicamente estruturalista, ao examinar as relações entre os elementos da história ao invés de focalizar no conteúdo da história em si. Se O pensamento selvagem é um manifesto da teoria geral de Lévi-Strauss, Mythologiques é uma extensa análise de exemplos.
O último volume de Mythologiques foi completado em 1971. Dois anos depois Lévi-Strauss foi eleito membro da Académie Française, a maior honra para um intelectual na França. Ele também é integrante de várias academias notáveis em todo mundo. Recebeu o Prêmio Erasmus em 1973; em 2003 recebeu o Prêmio Meister-Eckhart de filosofia. É doutor honoris causa de diversas universidades pelo mundo. Apesar de aposentado, Lévi-Strauss continua a publicar ocasionalmente volumes de meditações sobre artes, música e poesia, bem como reminiscências de seu passado.
Claude Levi-Strauss - CaricaturaLévi-Strauss no Brasil
Na década de 30, mais precisamente de 1935 a 1939, Lévi-Strauss lecionou sociologia na recém-criada Universidade de São Paulo, juntamente com uma leva de professores franceses, entre eles: Fernand Braudel, Jean Maugüé e Pierre Monbeig.
Strauss também excurcionou por regiões centrais do Brasil, como Goiás, Mato Grosso e Paraná. Publicou o registro dessas expedições no livro Tristes Trópicos(1955), neste livro ele conta inclusive como sua vocação de antropólogo nasceu nessas viagens.
Em uma de suas primeiras viagens, no norte do Paraná, Lévi teve seu esperado primeiro contato com os índios, no rio Tibagi, porém ficou decepcionado, ao ver que “os índios Tibagi não eram nem ‘verdadeiros índios’, nem ‘selvagens’” (Lévi-Strauss 1957:160-161). Porém ao final do primeiro ano escolar (1935/1936), ao visitar os Kadiveu na fronteira com o Paraguai e os Bororo no Mato Grosso Central, lhe rendeu sua primeira exposição em Paris nas férias de (1936/1937), o que foi fundamental para entrada de Lévi-Strauss no meio etnológico francês.
Em 1938 foi realizada uma expedição até os Nambikwara no Mato Grosso, porém, terminada antes do tempo devido a rumores políticos entre o patrocinador da expedição e o Gorverno Brasileiro, já que o mesmo era ligado ao Partido Socialista Francês. Essa missão também visitou os Bororo e os últimos representantes dos Tupi-Kaguahib do rio Machado, considerados desaparecidos, relata Lévi em Tristes Trópicos.
Enfim, após três anos no Brasil, Strauss volta à França com o reconhecimento de etnólogo do meio, provando assim que o seu período no Brasil, foi uma peça fundamental na sua carreira e no seu crescimento profissional. Diz ele: “Um ano depois da visita aos Bororo, todas as condições para fazer de mim um etnógrafo estavam satisfeitas;”(Lévi-Strauss 1957:261).

Citações

“O antropólogo é o astrônomo das ciências sociais: ele está encarregado de descobrir um sentido para as configurações muito diferentes, por sua ordem de grandeza e seu afastamento, das que estão imediatamente próximas do observador.” Antropologia Estrutural, 1967.

Claude Lévi-Strauss: Ideias em constante transformação Em trecho de livro inédito sobre o antropólogo, Eduardo Viveiros de Castro analisa o autor de Mitológicas
O título do livro que começo a escrever aqui diante de vocês é Isso Não é Tudo: Lévi-Strauss e a Mitologia Ameríndia. “Isso não é tudo”, “ce n’est pas tout” é uma fórmula frequentemente empregada por Lévi-Strauss, a ponto de poder ser considerada um pequeno maneirismo do autor, para introduzir um desdobramento ou uma guinada na análise, ou encerrar uma demonstração com uma sequência inesperada de acordes. Ela aparece, eventualmente nas variantes “não é só isso” e “há mais”, um pouco em toda parte na obra lévi-straussiana, mas (provavelmente) aumentando sua frequência nas Mitológicas.
A “petite phrase de Lévi-Strauss” marca um passo estilístico típico: o surgimento quase prestidigitatório (se a palavra existe) de sempre mais um eixo, sempre “um outro eixo” de transformação, disposto de través, em diagonal aos vários eixos que vinham até ali guiando a comparação; a produção em finta ou pirueta de uma torção suplementar completamente imprevista, que abre subitamente uma progressão que tudo encaminhava para o fechamento; a revelação de vínculo extra, implicado, obscuro, compactado no texto sob análise que subitamente se explica e esclarece, e ao mesmo tempo se multiplica e difrata em perspectivas que, literalmente, perdem-se de vista no horizonte. Teremos ocasião de registrar vários momentos da demonstração ao mesmo tempo sinuosa e reticular, barroca e rizomática abertos pelo “Isso não é tudo” nas Mitológicas. Na verdade, o movimento assinalado pela pequena frase ocorre muito mais frequentemente que ela; ela é opcional, mas o movimento, ao contrário, parece-nos necessário, intrínseco ao procedimento lévi-straussiano. A petite phrase, eis a nossa tese, cumpre na verdade uma função conceitual fundamental dentro da economia teórica do estruturalismo.
Descobri recentemente que F. Keck fala em um “méthode du “Ce n’est pas tout” – não fui, assim, o único a notar o maneirismo metódico. Mas Keck não tira deste método grandes lições, quando ao contrário penso que ele é muito importante. Ele aponta para o inacabamento da análise estrutural, e sugere as razões desse inacabamento: a fractalidade e rizomaticidade de todo objeto determinado pelo método estrutural, na medida em que esse objeto em geral é concebido sempre como um estado particular de um sistema de transformações cujos limites são contingentes. A “interminabilidade”, no duplo sentido (sem fim ou término, e sem possibilidade de determinação unívoca do que é um termo e uma relação, do que é literal e figurativo) da análise mítica é um princípio absolutamente fundamental das Mitológicas. Veremos que Lévi-Strauss insiste no caráter aberto, intensivo, iterativo, em nebulosa, poroso, “conexionista” dos sistemas míticos que reconstrói. “Isso não é tudo”, então, porque nada é tudo, em nenhum momento se alcança uma totalização. “Isto não é tudo” supõe um conceito de estrutura e de análise que não privilegia uma vontade de fechamento, compacidade, a determinação de uma combinatória exaustivamente definida a priori. Com o “isso não é tudo”, começamos a divisar a possibilidade de pensar Lévi-Strauss como um pós-estruturalista. (…)
Naturalmente, isso não é tudo? Lévi-Strauss irá insistir repetidas vezes nas Mitológicas sobre o fechamento do sistema que analisa, a redondez da terra da mitologia (mas também sua porosidade?), a completude do círculo que o leva das savanas do Brasil Central às costas brumosas do estado de Washington e da Columbia Britânica,e, localmente, sobre os vários fechamentos de grupos míticos menores. Será preciso então insistirmos sobre uma tensão interna ao pensamento do autor relativo à mitologia americana, a saber, sobre uma dialética da abertura e do fechamento analítico (e mítico) que caberá explorar, em suas aparentes contradições inclusive? Isso realmente não é tudo. A pequena frase pode ser usada para fechar a análise por um lado que parecia aberto. A ênfase no fechamento dos grupos, na coerência e homogeneidade do conjunto é sublinhada repetidas vezes no correr do texto, e atinge uma espécie de apoteose enfática no capítulo O Mito Único, do Homem Nu. Por isso, eu preciso sublinhar, já que estou fazendo uma leitura parcial, apostando na tensão que ora enfatiza a “vasta máquina combinatória que é todo sistema mítico” e o caráter grupal, fechado e coerente do seu “mito único”, ora fala em dinamismo, desequilíbrio, devir perpétuo, assimetria que sempre abre o mito por um outro lado – essa tensão deve estruturar minha exposição.
Lévi-Strauss, fundador do pós-estruturalismo… Ele certamente não é o último pré-estruturalista, mas é o primeiro pós-estruturalista. Ao dizer isso, em certo sentido, estaríamos antecipando a conclusão deste livro, que tem como uma de suas principais intenções a de mostrar a atualidade do pensamento lévi-straussiano: pensamento da assimetria, da complementaridade, da torção e da abertura. Poderíamos ir para casa agora e dedicar o tempo a ocupações mais amenas. Mas felizmente, ou infelizmente, isto não é tudo? Além de que será preciso demonstrar minimamente o bem-fundado de minha tese, o livro tem uma outra intenção maior, que não se comprime tão facilmente em um ou dois parágrafos, a saber, a intenção de expor a originalidade radical do pensamento indígena, tal como transparece nos discursos míticos analisados nas Mitológicas.
Inédito
Estes são trechos da versão preliminar da Introdução Generalíssima do manuscrito inédito do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, Isso Não é Tudo: Lévi-Strauss e a Mitologia Ameríndia, a ser lançado pela Cosac Naify em agosto de 2010, junto à primeira edição brasileira de O Homem Nu, quarto volume das Mitológicas de Claude Lévi-Strauss. Trata-se da primeira grande análise das Mitológicas, e uma visão contemporânea da obra lévistraussiana e do estruturalismo de modo geral. Viveiros de Castro trabalhou com Lévi-Strauss e foi, segundo ele, responsável pela criação de uma “nova escola na antropologia”.
Fonte: O Estado SP

Cronologia - 1908 – Claude Lévi-Strauss nasce em Bruxelas, na Bélgica.
- 1927 – Inscreve-se em direito e faz curso de filosofia na Sorbonne
- 1932 – Casa-se com Dina Dreyfus
- 1933 – É nomeado para o liceu de Laon
- 1935 – Em fevereiro, embarca para o Brasil. Desembarca em Santos e passa a viver em São Paulo. Reside na rua Cincinato Braga, 395, entre a rua Carlos Sampaio e a avenida Brigadeiro Luís Antônio. Assume a cadeira de sociologia na Universidade de São Paulo. Tem como colegas de trabalho o geógrafo Pierre Monbeig (1908-1987), o historiador Fernand Braudel (1902-1985) e o filósofo Jean Maugüé (1904-1985). Junto com a mulher, também etnóloga, faz a primeira viagem a Mato Grosso, onde inicia os estudos sobre os índios cadiuéus, bororos e nambiquaras
- 1938 – Desiste da renovação do contrato na Universidade de São Paulo para consagrar-se a uma longa expedição pelo interior do Brasil
- 1939 – Volta à França e instala, no Museu do Homem, as coleções etnográficas recolhidas nos anos em que esteve no Brasil. Separa-se de Dina
- 1941 – Com o avanço da Segunda Guerra, decide partir para os EUA. Passa a viver em Nova York, onde ensina na New School for Social Research
- 1945 – Casa-se com Rose-Marie Ullmo. Deste casamento nasce Laurent. Após a guerra, torna-se conselheiro cultural da Embaixada francesa nos EUA
- 1947 – Retorna à França
- 1948 – Defende na Sorbonne a tese “As Estruturas Elementares do Parentesco” , que é publicada em 1949
- 1950 – Com o apoio da Unesco, viaja à Índia e ao Paquistão Oriental (atual Bangladesh). Assume a função de diretor de estudos na Escola Prática de Altos Estudos, na seção de ciências religiosas
- 1954 – Após o segundo divórcio, casa-se com Monique Roman
- 1955 – Publica “Tristes Trópicos” , autobiografia intelectual, narrativa de viagem ao Brasil e ensaio científico sobre os indígenas cadiuéus, bororos, nambiquaras e tupi-cavaíbas. A obra torna-se um clássico da etnologia e dos estudos sobre o país
- 1957 – Nascimento do filho Matthieu
- 1958 – Publica o volume 1 de “Antropologia Estrutural”, dedicado à memória do francês Émile Durkheim (1858-1917), um dos fundadores das ciências sociais
- 1959 – É eleito para a cadeira de antropologia social no Collège de France, fundado em 1530 e uma das mais prestigiosas instituições de ensino da França
- 1960 – Funda, no Collège de France, o Laboratório de Antropologia Social
- 1961 – Cria, com colaboradores, a “L’Homme – Revue Française d’Anthropologie” (O Homem – Revista Francesa de Antropologia)
- 1962 – Publica “O Totemismo Hoje” e “O Pensamento Selvagem” –este último dedicado à memória do filósofo francês Maurice Merleau-Ponty (1908-61)
- 1964-71 – Lévi-Strauss publica os quatro volumes das “Mitológicas”
1968 – Na França, é condecorado com a Medalha de Ouro do Centro Nacional de Pesquisas Sociais
- 1973 – Eleito para a Academia Francesa. Publica “Antropologia Estrutural 2″, obra dedicada aos membros do Laboratório de Antropologia Social
- 1974 – Numa quinta-feira, 27 de junho, toma posse na Academia Francesa
- 1982 – Aposenta-se do Collège de France
- 1985 – Volta ao Brasil após 46 anos
- 1989 – O Museu do Homem organiza a exposição “As Américas de Claude Lévi-Strauss”
- 1994 – Publica “Saudades do Brasil” , que reúne fotografias do interior do país que fez entre 1935 e 1938
- 1996 – Publica “Saudades de São Paulo”, com fotografias de São Paulo feitas entre 1935 e 1937. “Se, no título de um livro recente, apliquei ao Brasil (e a São Paulo) o termo ‘saudade’, não foi por lamento de não mais estar lá. De nada me serviria lamentar o que após tantos anos não reencontraria. Eu evocava antes aquele aperto no coração que sentimos quando, ao relembrar ou rever certos lugares, somos penetrados pela evidência de que não há nada no mundo de permanente nem de estável em que possamos nos apoiar” (“Saudades de São Paulo”, tradução de Paulo Neves, Cia. das Letras, 1996)
- 28.nov.2008 – Claude Lévi-Strauss completa cem anos. “É assim que me identifico, viajante, arqueólogo do espaço, procurando em vão reconstituir o exotismo com o auxílio de fragmentos e de destroços” (“Tristes Trópicos”, trad. Rosa Freire d’Aguiar, Cia. das Letras)
-31.out.2009 – Morre em Paris
Premiações
Condecorações
• Grã-cruz da Ordem Nacional da Legião de Honra da França
• Ordem Nacional do Mérito da França
• Palmas Académicas da França
• Ordem Artes e Letras da França
• Ordem da Coroa da Bélgica
• Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul do Brasil
• Ordem do Sol Nascente do Japão
• Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico do Brasil
• Membro da Academia Francesa
• Membro estrangeiro da Acadêmia Nacional de Ciências dos EUA
• Membro da Academia Britânica
• Memmro da Academia Real de Artes e Ciências da Holanda
• Membro da Academia Norueguesa de Ciências e Letras

Doutor Honoris Causa


• Universidade Livre de Bruxelas – (Bélgica)
• Universidade de Chicago – (EUA)
• Universidade de Columbia – (EUA)
• Universidade de Harvard – (EUA)
• Universidade Johns Hopkins – (EUA)
• Universidade Laval – (Canadá)
• Universidade Nacional Autônoma do México – (México)
• Universidade de Montreal – (Canadá)
• Universidade de Oxford – (Inglaterra)
• Universidade de São Paulo – (Brasil)
• Universidade de Stirling – (Escócia)
• Universidade de Uppsala – (Suécia)
• Universidade Visva Bharati – (Índia)
• Universidade de Yale – (EUA)
• Universidade Nacional do Zaire – (Zaire)
Bibliografia
• Família e vida social dos índios Nambikwara (La vie familiale et sociale des indiens Nambikwara) – 1948
• As estruturas elementares do parentesco – 1949 – O primeiro livro do autor, fruto de sua tese de mestrado (Editora Vozes)
• Raça e História – 1952
• Tristes Trópicos – 1955 – Clássico da etnologia, reúne informações recolhidas na viagem pelo Brasil (Companhia das Letras)
• Antropologia Estrutural – 1963 e 1973 (2 volumes) – De 1958, traz os elementos para a renovação do método antropológico (Cosac Naify)
• Toteísmo hoje – 1962
• Pensamento selvagem – 1962 – Análise do que Lévi-Strauss chama de “traço universal do espírito humano” (Editora Papirus)
• Mitológicas de I a IV – Série de quatro livros em que analisa mais de oitocentos mitos indígenas americanos (Cosac Naify)
o O cru e o cozido – 1964
o Do mel às cinzas – 1966
o A origem das maneiras à mesa – 1968
o O Homem Nu – 1971
• O Caminho das Máscaras – 1972
• Ver a distância – 1983
• Antropologia e Mito: Palestras – 1984
• Veja, ouça, leia – 1993 – Reunião de ensaios sobre arte, em tom de conversa com o autor (Companhia das Letras, esgotado)
• O Suplício do Papai Noel – Discute o significado de festas de fim de ano e a comercialização dessas datas (Cosac Naify)
• De Perto e de Longe – Longa entrevista concedida por Lévi-Strauss em 1988 ao filósofo Didier Eribon (Cosac Naify)
• História de Lince – Última incursão do antropólogo pela mitologia americana (Companhia das Letras, esgotado)
• Saudades do Brasil – Coletânea de fotos feitas por ele do País, seguida de Saudades de São Paulo (Companhia das Letras)
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FONTE: (http://www.biografia.inf.br/claude-levi-strauss-antropologo.html)

RACISMO - Trabalhando em sala de aula

Comece por fazer uma análise por escrito ou oralmente as frases seguintes, de modo que você possa discutir com eles a presença de preconceitos, os estereótipos e o racismo nelas embutidos:
Marta é negra, mas é bonita.
Seu João é um homem notável. Um preto de alma branca.
Os jogadores negros de futebol só se casam com loiras burra. O negro quando não suja na entrada suja na saída.


Preconceito de classe ou de raça
A situação do negro hoje não é muito diferente daquela de 100 anos atrás. Embora a condição do negro seja outra - não é mais escravo, ou seja, não é propriedade de ninguém  continua sendo considerado "ser inferior". Tal como aconteceu quando foi abolida a escravidão, as taxas de desemprego e de subemprego são maiores entre os negros que entre os brancos.Os negros geralmente conseguem trabalho de pouco prestígio social. Conseqüentemente é grande o número de negros residindo em locais pobres, como nas favelas.
É fácil observar que muitos negros trabalham como empregados domésticos. A associação entre ser negro e ser empregado doméstico é tão imediata que muitas dona-de-casa negras já ouviram de pessoas que bateram a sua porta, a pergunta: "A dona de casa está?".
A linha de cor passou a se confundir com a linha de posição social, de classe. Em outras palavras, a maioria dos negros passou a ocupar as mais baixas posições na sociedade.
Hoje, a maioria dos negros é pobre.É verdade que existem brancos nas mesmas condições,porém,a"c1asse privilegiada"é constituída por brancos.Por isso,dizer que no Brasil o que existe é preconceito de classe e não racial(de cor)é outra tentativa de mascarar a questão.

DIA 21 DE FEVEREIRO: DIA DO COMBATE À DISCRIMINAÇÃO RACIAL
Racismo à Brasileira
Quando preto voa? Quando cai da construção.
Quando o preto anda de carro? Quando vai preso.
Quando preto sobe na vida? Quando explode o barraco
Por que preto não erra? Porque errar é humano.
Quando preto vai à escola? Quando está construindo.


Analise seriamente esta inscrição gravada na Escola de Policia de São Paulo: “Um negro parado é suspeito; correndo, culpado”

VALENTE, Ana Lúcia E.F. Ser negro no Brasil hoje. 11ª Ed., Enciclopédia EDIPE, vol. 9.

Os selvagens classificavam-se em "dóceis", "humildes", "bons" quando não oferecem resistência à sua assimilação ou fusão na cultura e na organização produtiva dos Civilizadores (Senhores, Patrões, Colonos, etc). Se se mostravam resistentes à Civilização são denominados de "rebeldes", "a-sociais", etc.
A cada raça foi atribuído um conjunto de características que correspondiam à sua especialização para o trabalho: o negro é forte, mas indolente; o chinês é fraco, mas persistente, etc. Mais uma vez estas classificações serviam para legitimar o domínio dos brancos, e interiorizar nos respectivos povos um conjunto de características que fariam parte da sua natureza.


Racismo dos Africanos
Os africanos são racistas? Em princípio poderão ser tanto como os europeus asiáticos, etc., desde que estabeleçam diferenças discriminatórias entre os seres humanos baseadas na cor da pele.
Admite-se que alguns movimentos políticos no século XX, tenham contribuído para desenvolver entre os africanos tendências racistas contra os brancos, como forma de estimular a criação de uma consciência da unidade cultural dos negros (Africanidade, Negritude, Poder Negro, etc).
A quase totalidade dos países africanos quando se tornaram independentes, explorou formas diversas de racismo como um modo de favorecer a coesão nacional entre negros.

Racismo Como Ameaça
As manifestações de racismo ocorrem, quando um povo ou um grupo social expressivo, se sente ameaçado por outro, e considera que esta ameaça pode colocar em causa o seu Poder (privilégios, território, etc) (1), Cultura (2), Identidade Cultural (3), Religião (4); etc.

Nascimento do Racismo
As primeiras concepções racistas modernas surgem em Espanha, em meados do século XV, em torno da questão dos judeus e dos muçulmanos. Até então os teólogos católicos limitavam-se 'aqui a exigir a conversão ao cristianismo dos crentes destas religiões para que pudessem ser tolerados. Contudo, rapidamente colocam a questão da "Iimpieza de sangre" (limpeza de sangue). Não basta convertê-Ios, "Iimpando-Ihes a alma", era necessário limpar-Ihes também o sangue. Só que acabam por chegar à conclusão que este uma vez infectado por uma destas religiões, permaneceria impuro para sempre. A religião determina a raça e vice-versa. No século XVI esta concepção é estendida ao Indíos e Negros. Nenhuma conversão ou cruzamento destas raças, afirma o espanhol Frei Prudêncio de Sandoval, é capaz de limpar a sua natureza inferior e impura. A única cura possível, nestes casos, é o extermínio. Entre Sandoval e Adolfo Hitler existe uma linha de continuidade de idéias e práticas racistas (J.H.Jerushalmi).
Ainda no século XVI, como refere Hannah Arendet, surgirá na França uma outra concepção racista que será retomada por outros ideólogos racistas mais recentes. François Hotman sustenta então que existia na França duas raças diferentes: a dos nobres e da do povo. A primeira, de origem germânica, era a raça dos fortes e conquistadores. A segunda, a dos vencidos e antigos escravos. Trata-se de uma argumentação que procura sustentar em termos rácicos o poder e a supremacia da nobreza em toda a Europa.

Racismo e Direitos Humanos
Declaração dos Direitos do Homem, elaborada no século XVIII, consagra a idéia da igualdade de todos os seres humanos, independentemente da sua raça, religião, nacionalidade, idade ou sexo. Diversos países desde então integraram estes princípios nas suas constituições, mas a verdade é que não tardaram em adotar medidas restritivas à sua aplicação. A França, que simbolizou esta mesma Declaração, não tardou logo em 1804, em decretar a reintrodução da escravatura nas colônias e ao longo de todo o século XIX em proteger o tráfico clandestino dos negreiros.
Embora teoricamente todos os Homens fossem considerados iguais, desta igualdade foram excluídos os negros, os índios e todos as "raças" consideradas "selvagens", "incivilizadas", "primitivas", etc.

Breve Bibliografia sobre Racismo

Banton, Michael- A Ideia de Raça.Lisboa.Ed.70.1977


BERNAD, Zila. Racismo e Anti- Racismo. Coleção Polêmica. SãoPaulo, Moderna,1994
Bracinha, Vieira . A. - Racismos e Teoria. Lisboa. In, Ethnologia. 3-4. 1996

BRINK, William, HARRIS, Louis, Negros e Brancos – O drama racial dos Estados Unido~, Lisboa.Ed. Ibis.1968.
BRITO, R. - Racismos e Assimetria Positivo-Negativo no Enviezamento Entregrupal ao Nível das Avaliações Intergrupais, Lisboa. ICSTE. Diss.Metrado.1998
CAVALLEIRO, Eliane (org.).- Racismo e anti-racismo na educa  repensando nossa escola. São Paulo: Summus, 2001.
CARDOSO, Carlos Manuel - Educação Multicultural, Lisboa. Texto e Editora, 1996.
CARNEIRO, M. L. Fucci. O Racismo na História do Brasil. Sã Paulo, Ática, 1998
CONTADOR, António Concorda- A Cultura Juvenil Negra e Portugal, Oeiras, Celta . 2001.
COSTA, Alfredo Bruto da- Exclusões Sociais, Viseu. Gradiva, 2001
COMBESQUE, Marie Agnés- O Silêncio e o Ódio Racismo, da insulto ao assassínio, Lisboa, Livros do Brasil. 2002.
DU BOIS,W.E.B. As almas da gente negra. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 1999.
Fanon, Frantz - Pele Negra nas Caras Brancas.Porto.Paisagem.1975
Faria, SERGIO L. - O Que é o Racismo? BRASILlENSE
FINLEY, Moses r. Escravidão antiga e ideologia moderna. Rio de Janeiro: Graal, 1991.

RACISMO - Miliana PassareLli Ubiali

1. Conceitos básicos para a temática racial

Iniciar uma conversa sobre a temática racial não é uma tarefa fácil em nenhum país. No caso do Brasil a questão é ainda mais árdua, se considerarmos a influência de ideologias formadoras do pensamento social, que apresentaram este país como "cordial" e harmônico em relação a todo tipo de diferença (com destaque para as diferenças raciais e religiosas). Mas será que o Brasil é realmente "cordial" e trata seus cidadãos igualmente, sem distinção de raça, cor, credo, opção sexual etc? Esse curso se propõe tratar da questão racial na sociedade brasileira, mas antes de trabalhar algumas perspectivas sobre essa temática é preciso conhecer conceitos comumente utilizados e nem sempre de forma precisa.
Raça, por exemplo, é um termo cen tral para o nosso trabalho e deve ser utilizado com muito cuidado. Podemos observar três momentos nos quais a categoria raça foi utilizada e posteriormente re-definida. Primeiramente, no inicio do século XVI, o conceito de raça era usado para identificar um grupo, ou uma categoria de pessoas conectadas por uma origem comum (Banton, 1994:264). O segundo momento surge no século XIX, quando raça aparecia com uma conotação biológica, ou seja, os grupos humanos passaram a ser diferenciados e interpretados por suas características físicas e mentais. As características físicas, com destaque para cor, explicariam, nesse momento, baseadas na ciência da época, as características morais, culturais e intelectuais dos grupos sociais. Não se pode esquecer, aqui, do contexto desse período: estávamos em pleno processo de colonização ocidental, no qual a utilização de teorias como estas, que apresentavam as características fenotípicas como justificativas para uma hierarquização de grupos em todos os aspectos, legitimaram a dominação colonial.
Após a Segunda Guerra Mundial o termo raça com essa conotação biologizada passa a ser questionado. Resultado tanto da repulsa dos acontecimentos da própria Guerra (Hitler X Judeus1) como das inquietações, levantadas pela ciência, quanto à inexistência de pontos significativos nas diferenças de características fenotípicas entre grupos humanos que justificassem a hierarquização dos mesmos, ou seja, o racismo.
É importante destacar: na publicação de 15 de novembro de 1998, da revista Isto É, foi divulgada uma pesquisa, chefiada por Alan Templeton, que comparou mais de 8.000 amostras genéticas de pessoas em todo o mundo, colhidas aleatoriamente, com o in tuito de levantar as diferenças genéticas en tre elas. O resultado das análises comprovou que não é correto falar de raça, a partir da perspectiva biológica, entre os seres humanos, pois as diferenças genéticas entre os grupos humanos são insignificantes.
Nesse momento, o termo etnia se introduz no contexto acadêmico como uma nova forma de subdividir os seres humanos em suas características culturais com0: língua, tradição, territórios, momentos históricos etc. Portanto, etnia se desliga do sentido biológico, atribuído a raça, apresentando-se como "identidade social", colocando no centro do debate as construções sociais, culturais e políticas, tirando assim o foco das diferenças inatas ou naturais.
Os debates acadêmicos em torno do melhor conceito para se classificar grupos sócio-culturais foram acirrados. Muitos autores que utilizam o termo etnia reconhecem que o termo raça é mais apropriado na medida em que é a cor que está no convívio social e que seria a razão explicativa das manifestações racistas. Guimarães pontua a questão da seguinte forma: as raças não são um fato do mundo físico, elas existem, contudo, de modo pleno, no mundo social (GUIMARÃES,1999:9).
Para não perder a conotação presente na sociedade, em relação ao uso do termo raça, alguns autores optaram por utilizar o termo étnico-racial para identificar os grupos humanos. O racismo, fundamentado na existência de uma coincidência entre o fenótipo do indivíduo e/ou do grupo e as características intelectuais, morais, culturais etc, ganha' evidência durante a Segunda Guerra Mundial, quando ocorre a retomada dos argumentos do início do século XIX, que se sustentavam na crença de raças hierarquicamente ordenadas (designando-as superiores e inferiores). A própria permanência do racismo na sociedade justifica a utilização, no campo social, da categoria raça, que passa a ser utilizada, também, pelo movimento negro, na sua luta política contra toda forma de discriminação e preconceito racial.
No caso do Brasil, falar de racismo ainda é tabu. Para compreendermos essa discussão destacaremos, a seguir, quatro pontos fundamentais: 1) a crença de que somos um país relativamente harmônico no padrão das nossas relações raciais, que ainda permanece no imaginário da população brasileira, apesar de esta conviver com um racismo institucionalizado mas não assumido; 2) o fato de que tivemos insistentes teorias que trabalharam o racismo sob uma perspectiva de classe, como Guimarães ressalta: a assimetria entre o discurso classista e ra cial no Brasil, quando percebida, foi tomada, por equivoco, como prova de insignificância das 'raças' (GUIMARÃES, 1999:40); 3) o paralelismo do debate brasileiro entre raça e cor, que diferentemente de outros países nos quais as diferenças raciais eram "dadas pelo sangue", no Brasil a característica central da diferenciação firmou-se pela cor e suas gradações; 4) a discussão sobre a questão da miscigenação e os embates teóricos sobre a classificação da sociedade brasileira.
Para se entender a complexidade do racismo devemos considerar os contextos históricos, políticos, econômicos e culturais. Assim, podemos afirmar que raça e seus derivados não possuem uma existência que independa de caracteres valorativos presentes nas práticas sociais de uma dada sociedade. Outro conceito essencial para nossa temática é o de preconceito racial. Este termo significa que há uma desqualificação prévia e negativa de pessoas pertencentes a grupos étnico/raciais distintos, ou seja, sem qualquer conhecimento, referente a esses grupos, os indivíduos pertencentes a outros grupos étnico/ raciais relacionam valores negativos ao identificar o "diferente".
O preconceito é aprendido socialmente e escolhemos, ou não, reproduzi-lo, mas muitas vezes nem percebemos o quanto, no convívio social, assumimos valores e julgamentos que nos foram passados. Por isso, podemos afirmar que ninguém nasce preconceituoso (a), nós aprendemos a sê-lo nas relações sociais.
Alguns preconceitos estão tão enraizados em nossa sociedade que se tornam estereótipos, ou seja, são preconceitos cristalizados que estão presentes em nosso cotidiano e atribuem e indicam determinados traços, em geral pejorativos, de comportamento e de personalidade para alguns grupos. Exemplos de estereótipos: "mulheres dirigem mal", "toda sogra é chata", "os judeus são pão duros", "todo político é corrupto", "o negro é bom de bola" etc.
As atitudes preconceituosas contra um grupo étnico/racial, ou alguém, são chamadas de discriminação racial. A discriminação racial é o ato em si, a atitude que resulta de posições racistas e preconceituosas, assim é o momento em que se externalizam os preconceitos raciais. Esse tipo de ação pode variar desde a violência física até a violência simbólica.
No primeiro caso teremos grupos ou indivíduos extremistas que demonstram intolerância por meio de ações diretas con tra determinada população e, no segundo caso, teremos rejeições indiretas. Ambos se tiverem conotações racistas são, certamente, movidos pela construção de estigmas e estereótipos imputados aos grupos étnico raciais. Estigma é uma palavra de origem grega e se refere a sinais corporais que evidenciam que tal indivíduo não esta coerente com as normas e os padrões estabelecidos, o que o torna desacreditado perante seu grupo. O que nos interessa aqui é pensarmos que algumas características, como a cor, ao longo do processo histórico do Brasil foi sendo intencionalmente estigmatizada, ou seja, essas características eram sinônimos de desajuste social, fora do padrão, das normas e atraso. Imaginem o quanto é difícil para uma criança ou um jovem crescer sem conseguir se livrar de qualquer estigma, especialmente aqueles que são atribuídos com o sentido de inferiorizar o outro!
Como nós educadores podemos notar, quanto mais trabalhamos o tema das diferenças mais termos encontramos, os quais devem ser explorados e cuidadosamente utilizados, já que a linguagem é uma mediação fundamental entre as pessoas.
Retomando a primeira questão: será que o Brasil é realmente "cordial" e trata seus cidadãos igualmente, sem distinção de raça, cor , credo e opção sexual? 
Deve ser lembrado que a justificativa da Alemanha nazista, comandada por Hitler, era de que a "raça ariana" era superior e os judeus eram estrangeiros de raça inferior e, por isso, traziam riscos para a Alemanha.

Referências Bibliográficas:

BANTON, M. "Race". In: CASHMORE, Ellis. Dictionary of Race and Ethnic Relations. London, Routledge, terceira edição, 1994. COSTA, A. S. As Cores de Erdlia: esfera pública, democracia, configurações pós nacionais. Editora UFMG, 2002.

GOMES, N. L. e MUNANGA, K. Para Entender o Negro no Brasil de Hoje: histórias, realidades, problemas e caminhos. Coleção Viver e Aprender, Global Editora e Ação Educativa, 2004.

GUIMARÃES, A. S. A. Racismo e Anti Racismo no Brasil. Editora 34, 1999.

HOFBAUER, A. "O Conceito de 'Raça' e o Ideário do Branqueamento no século XIX:
Bases ideológicas do racismo brasileiro". Revista Teoria e Pesquisa do Departamento de Graduação e Pós-graduação em Ciências Sociais da UFSCar, 2003.

SILVERIO, V. R. Raça e Racismo na Virada do Milênio: os novos contornos da racialização. Tese de doutorado apresentada ao Departamento de Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, 1999.