terça-feira, 17 de março de 2020

CAUSAS DA IMIGRAÇÃO

TEXTO 1

Por que as pessoas migram? Eis uma pergunta tradicional que nunca recebeu uma resposta completa, mas que deu ensejo a muitas publicações e debates. A questão básica envolve o peso dos fatores de expulsão ou de atração e a maneira como se equilibram. Para começar, deve-se dizer que a maioria dos migrantes não deseja abandonar suas casas nem suas comunidades. Se pudessem escolher, todos- com exceção dos poucos que anseiam por mudanças e aventuras - permaneceriam em seus locais de origem. A migração, portanto, não começa até que as pessoas descobrem que não conseguirão sobreviver com seus meios tradicionais em suas comunidades de origem. 
Na grande maioria dos casos, não logram permanecer no local porque não têm como alimentar-se nem a si próprias nem a seus filhos. Num número menor de casos, dá-se a migração ou porque as pessoas são perseguidas por sua nacionalidade - como as minorias dentro de uma cultura nacional maior - ou seu credo religioso minoritário (dos judeus aos menonitas e aos dissidentes da Igreja russa ortodoxa) é atacado pelo grupo religioso dominante.
Uma vez que as condições econômicas constituem o fator de expulsão mais importante, é essencial saber por que mudam as condições e quais são os fatores responsáveis pelo agravamento da situação critica que afeta a capacidade potencial dos emigrantes de enfrentá-la. Nessa fórmula, três fatores são dominantes: o primeiro é o acesso à terra e, portanto, ao alimento; o segundo, a variação da produtividade da terra; e o terceiro, o número de membros da família que precisam ser mantidos. 
Na primeira categoria estão as questões que envolvem a mudança dos direitos sobre a terra, suscitada via de regra pela variação da produtividade das colheitas, causada, por sua vez, pela modernização agrícola em resposta ao crescimento populacional. Nas grandes migrações dos séculos XIX e XX -
época em que chegaram à América mais de dois terços dos migrantes -, o que de fato contava
era uma combinação desses três fatores.
KLEIN, Herbert S. Migração internacional na história das Américas. In: FAUSTO, Boris (Org.). Fazer a América: a imigração cm massa para a América Latina. São Paulo: Edusp, 2000. p. 13-14.
Na Europa, era muito comum cantar músicas que enalteciam as virtudes do Brasil, como dois pequenos trechos a seguir.

Vamos para a América
Naquele belo Brasil
Aqui ficam os nossos ricos senhores
A trabalhar a terra com a enxada [...].

Música italiana tirada de La Grande Emigrazione, de Emilio Franzina, Veneza: Marsilio Editori, 1976. p. 204.

O carro já está em frente à porta,
Partimos com a mulher e filharada,
Emigramos para a terra prometida,
Ali se encontra ouro como areia.
Logo, logo estaremos no Brasil.

Música alemã tirada do livro O imigrante alemão, de Carlos Fouquet. São Paulo: Instituto Hans Staden, 1974. p. 82.


TEXTO 2

Esse era o imaginário a respeito da América que prevalecia na Europa desde o século XVI e que, a partir de meados do século XIX, serviu de atrativo para grande parcela da população camponesa de vários países europeus. E preciso, contudo, entender as condições de vida dessa população em um continente que passava por muitas transformações decorrentes da transição da economia feudal para a economia capitalista, e do desenvolvimento da industrialização. Segundo Zuleika Alvim [Imigrantes: a vida privada dos pobres do campo. In: NOVAIS, Fernando A. (Org.). História da vida privada no Brasil - República: da Belle Epoque à Era do Rádio. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 219-220], em linhas gerais, podemos apontar os seguintes fatores para esse processo histórico:
  • concentração da terra nas mãos de poucos proprietários, expulsando os trabalhadores rurais do campo;
  • endividamento dos pequenos proprietários rurais devido às altas taxas de impostos sobre a propriedade, o que levava à solicitação de empréstimos;
  • dificuldade do pequeno proprietário de enfrentar a concorrência da oferta de produtos a preços inferiores por parte dos grandes proprietários;
  • grande concentração dessa população expulsa do campo nas cidades, criando uma reserva de mão de obra para a indústria nascente;
  • impossibilidade de absorção, sobretudo na Itália e na Alemanha, de todos esses trabalhadores pela indústria;
  • acentuado crescimento demográfico, com a população europeia aumentando duas vezes e meia;
  • desenvolvimento tecnológico, com a máquina substituindo o trabalho do homem.


Entretanto, o sonho de "fazer a América" não era tão facilmente realizado. A vida desses imigrantes foi marcada, especialmente no início, por muito trabalho, dificuldades de adaptação à língua, costumes e hábitos diferentes. E, além do preconceito que sofriam no país de origem, foram vítimas de preconceito no Brasil, reproduzindo aqui as visões negativas que opunham alemães do norte ao sul, italianos setentrionais a italianos meridionais, alemães a poloneses, italianos a japoneses (ALVIM, 1998, p. 269).

Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.


Link do filme O QUATRILHO

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