Antes [...], descreveremos primeiramente como o conhecimento é similar e diferente da informação. Três observações tornam-se aparentes nesta seção. Primeiramente, o conhecimento, ao contrário da informação, é sobre crença e compromissos. O conhecimento é uma função de uma determinada instância, perspectiva ou intenção. Em segundo lugar, o conhecimento, ao contrário da informação, é sobre ação. É sempre conhecimento "para algum fim". E, em terceiro lugar, o conhecimento, como a informação, é sobre significado. É específico ao contexto e relacional.
[...] Deve se observado, no entanto, que embora a epistemologia ocidental tradicional tenha enfocado a "veracidade" como atributo essencial do conhecimento, nós salientamos a natureza do conhecimento como "crença justificada". Esta diferença de foco introduz outra dimensão crítica entre a visão de conhecimento da epistemologia ocidental tradicional e a da nossa teoria de criação do conhecimento. Enquanto a epistemologia tradicional enfatiza a natureza absoluta, estática e não-humana do conhecimento, tipicamente expressa nas proposições e na lógica formal, consideramos o conhecimento como um processo humano dinâmico de justificação da crença pessoal dirigida à "verdade".
Apesar de os termos "informação" e "conhecimento" serem, com frequência, usados intercambiavelmente, existe uma nítida distinção entre a informação e o conhecimento. Como Bateson (1979) afirma, " a informação consiste em ponto de vista para a interpretação de eventos ou objetos, que torna visíveis os significados previamente invisíveis ou ilumina conexões inesperadas. Assim, a informação é um meio necessário ou material para extrair e construir o conhecimento. Ela afeta o conhecimento, acrescentando algo a ele ou reestruturando-o (Machlup, 1983). Similarmente, Dretske (1981) argumentava como a seguir: "A informação é uma mercadoria capaz de produzir conhecimento, e a informação incluída em um sinal é o que podemos aprender dela... O conhecimento é identificado como a crença produzida (ou sustentada) pela informação" (p.44,86).
A informação pode ser encarada a partir de duas perspectivas: informação "sintática" (ou de volume de) e informação "Semântica" (ou significado de). Uma ilustração da informação sintática é encontrada no fluxo de análise da informação de Shannon e Weaver (1949), medido sem qualquer consideração com o significado inerente, embora o próprio Shannon tenha admitido que essa forma de ver a informação seja problemática[1]. O aspecto semântico da informação é mais importante para a criação do conhecimento, pois enfoca o significa transmitido. Se alguém limitar o âmbito da consideração apenas ao aspecto sintático, não consegue captar a importância real da informação no processo de criação do conhecimento. Qualquer preocupação com a definição formal de informação levará a uma ênfase desproporcional do papel do processamento da informação, que é insensível à criação do novo significado a partir do caótico, obscuro, mar de informações.
Assim, a informação é um fluxo de mensagens, enquanto o conhecimento é criado pelo mesmo fluxo de informações, ancorado nas crenças e no compromisso de seu portador. Este entendimento enfatiza que o conhecimento é essencialmente relacionado com a ação humana [2]. A discussão de Searle (1969) do "ato de falar" também aponta para a relação próxima entre a linguagem e a ação humana em termos de intenção e do "compromisso" dos que falam. Como base fundamental para a teoria da criação do conhecimento organizacional, prestamos atenção à natureza ativa, subjetiva, do conhecimento representada por termos como "compromisso" e "crença", que estão profundamente enraizados nos sistemas de valores dos indivíduos.
Por fim, tanto a informação quanto o conhecimento são específicos ao contexto e relacionais por dependerem da situação, sendo criados dinamicamente na interação social entre as pessoas. Berger e Luckamnn (1966) argumentam que as pessoas que interagem, em um determinado contexto histórico e social, compartilham informações a partir das quais constroem o conhecimento social como uma realidade que, por sua vez, influencia seu discernimento, comportamento e atitude. [...]
[1] Shannon mais tarde comentou: "Acho que talvez a palavra 'informação' esteja causando mais confusão... do que devia, exceto por ser difícil encontrar outra palavra que seja um pouco mais adequada. Deve-se ter solidamente em mente que [a informação] é apenas um medida da dificuldade na transmissão da sequência produzida por alguma fonte de informação" (citado por Roszack, 1986, p.12). Boulding (1983) observa que a investigação de Shannon foi análoga a uma conta telefônica, que é calculada com base no tempo e na distância, mas não proporciona insight quanto ao conteúdo da informação, e a chamou de informação Bell Telephone (BT). Dretske (l98l) afirma que uma teoria da informação genuína seria a teoria sobre o conteúdo de nossas mensagens, não uma teoria sobre a forma em que o conteúdo está incorporado.
[2] A importância da relação conhecimento-ação tem sido reconhecida na área da inteligência articificial. Por exemplo, Gruber (1989) examinou o "conhecimento estratégico" de especialistas que orienta sua ações e tentou desenvolver instrumentos para a aquisição desse conhecimento.
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FONTE (NONAKA, I; TAKEUCHI, H. Teoria do conhecimento organizacional, pp.55-57.83 apud NONAKA, I; TAKEUCHI, H. Gestão do conhecimento. Porto Alegre: Bookman, 2008)
"Sobre a possibilidade de uma definição de conhecimenti fundamentada em uma teoria da informção" pode me ajudar?
ResponderExcluirCaro,
ResponderExcluirem minha medida, me disporei a ajudar. Desde já, a resposta à pergunta implícita é SIM. O conhecimento é possível a partir de cognições elaboradas a partir de informações colhidas em todos os cantos e situações. Conte comigo. Até mais.
Prof.FredBandeira
O que seria essas "crenças e compromissos" explicitas no primeiro paragrafo?
ResponderExcluirCaro Anônimo,
ExcluirApesar de os autores não aprofundarem os dois termos em destaque (crença e compromisso), penso que poderiam ser entendidos em suas formas conceituais conforme a denotação a eles reservadas; vamos a elas:
1º Crença. Segundo JAPIASSÚ (1996, p.57), a crença é uma atitude pela qual afirmamos com certo grau de probabilidade ou de certeza, a realidade ou a verdade de uma coisa, embora não consigamos comprová-la racional e objetivamente. O conhecimento é, portanto, essa afirmação (crença) sobre uma informação, que julgamos ter posse. Acontece, em muitas ocasiões de cometermos paralogismos na passagem da informação-conhecimento.
2º Compromisso. Segundo FERREIRA (2010,p.169), o compromisso é uma obrigação mais ou menos solene, ou ainda, um acordo pelo qual os litigantes sujeitam a arbitragem a decisão dum pleito. O conhecimento, em nessa sua vertente, agora se revela como uma decisão: ora, se se sabe de uma obrigação e não cumpri-la seria fugir ao seu compromisso, àquilo que você mesmo transformou de outrem em próprio.
Até mais.