Sócrates: ... reconheço a suma importância das parteiras. Contudo, o trabalho delas é menos importante do que o meu...
Tudo que é verdadeiro acerca da arte do parto delas também o é em relação a mim. A diferença entre uma e outra está em que a minha é praticada em homem, não em mulheres, e no cuidado de suas almas em dores do parto, e não de seus corpos. Mas o que há de mais expressivo na minha arte é a sua capacidade de testar, de todas as maneiras possíveis, se o intelecto do jovem está gerando uma mera imagem, uma falsidade, ou uma genuína verdade.
Com efeito, partilho do seguinte com as parteiras: sou estéril em matéria de sabedoria. A censura que sido dirigida amiúde a mim, isto é, de que interrogo as outras pessoas, mas que eu mesmo dão dou resposta alguma a nada porque não possuo nenhuma sabedoria em mim, é uma censura procedente. E a razão para isso é a seguinte: o deus compele-me a atuar como parteiro, mas sempre proibiu-me que desse à luz. Por conseguinte, não sou em absoluto um sábio e não disponho, tampouco, de nenhuma sábia descoberta que fosse rebento nascido de minha própria alma. Todavia, com aqueles que a mim se associam é diferente.
Inicialmente, alguns deles parecem muito ignorantes, mas à medida que o tempo passa e nosso relacionamento progride, todos aqueles que recebem a graça de deus realizam um magnífico progresso, não só em sua própria avaliação, como também na alheia. E patenteia-se que o realizam não porque tenham algum dia aprendido de mim, mas porque descobriram em si mesmo muitas belas coisas às quais deram à luz. Entretanto, o parto desses rebentos deve-se ao deus e a mim.
_____________
FONTE: (PLATÃO, Diálogo I - Teeteto apud CARAVANTES, Comportamento organizacional e comunicação, 2009, p.19)
Nenhum comentário:
Postar um comentário