Martin Heidegger[1]
Nascido em Messkirch, na região de Baden, Alemanha,
Martin Heidegger (1889-1976) desenvolveu sua formação filosófica na
Universidade de Freiburg, onde Edmund Husserl era professor. Publicou, em 1927,
uma de suas mais importantes obras, Ser e tempo.
Com a ascensão de Hitler ao poder, em 1933 afastou-se
de seu antigo mestre e amigo Husserl, que era judeu. Não muito tempo depois,
porém, talvez por tomar consciência das crescentes atrocidades nazistas, demitiu-se
da Universidade de Freiburg, da qual era então reitor, e isolou-se em sua casa
nas montanhas da Floresta Negra, mantendo poucos contatos até sua morte.
Ente e ser
Rompendo com a tendência dominante
da filosofia
moderna, que desde Descartes
estava voltada
para
a teoria do conhecimento, Heidegger retomou a questão da
ontologia, a investigação do ser. Para ele, o problema central da filosofia
é o ser, a existência de tudo.
O filósofo negou que fosse um existencialista. Devemos, segundo afirmava, começar investi nossa
existência porque é dela que, primeiramente temos consciência. Mas uma filosofia
que colocasse apenas o ser humano como centro de preocupação seria antes uma
antropologia. Por isso dizia que a questão que o preocupava não era a
existência do ser humano, e sim a questão do ser em seu conjunto e enquanto
tal. Essa sua intenção, no entanto, só ficou clara a partir de 1930, quando
publicou Da essência da verdade.
Heidegger criticou aquilo
que considerava uma confusão entre ente e ser, ocorrida ao longo da
história da filosofia. Para ele, o ente
é a existência, a manifestação dos
modos de ser. O ser é essência aquilo que fundamenta e
ilumina a existência ou os modos de ser. A partir dessa diferenciação é possível
estabelecer duas fases da filosofia heideggeriana. A primeira caracteriza-se
pela busca do conhecimento do ser por meio da análise do ente humano, da existência
humana. Na segunda, o ente sai do primeiro plano e o próprio ser torna-se a
chave para a compreensão da existência.
Despertar pela angústia
Um dos objetivos
básicos de sua obra “Ser e tempo” é
investigar o sentido do ser. Para efetuar tal tarefa, Heidegger começou pela
análise do ser que nós próprios somos. Criando uma terminologia própria, e por
vezes obscura, denominou o modo de ser do ser humano, nossa existência, com a
palavra Dasein, cujo sentido é
ser-aí, estar-aí.
Analisando a
vida humana, o filósofo descreveu três etapas que marcam a existência e que,
para a maioria dos indivíduos, culminam em uma existência inautêntica:
• fato
da existência - o ser humano é "lançado” ao mundo, sem saber por quê. Ao
despertar para a consciência da vida, já está aí, sem ter pedido para nascer;
• desenvolvimento
da existência - o ser humano estabelece relações com o mundo (ambiente natural
e social historicamente situado). Para existir, projeta sua vida e procura agir
no campo de suas possibilidades. Move uma busca permanente para realizar aquilo
que ainda não é. Em outras palavras, existir é construir um projeto;
• destruição
do eu. - tentando realizar seu projeto, o ser humano sofre a interferência de
uma série de fatores adversos que o desviam de seu caminho existencial.
Trata-se do confronto do eu com os outros, confronto no qual o indivíduo comum
é, geralmente, derrotado. O seu eu é destruído, arruinado, dissolve-se na
banalidade do cotidiano, nas preocupações da massa humana. Em vez de se tornar
si-mesmo, torna-se o que os outros são; assim, o eu é absorvido no com-o-outro
e para-o-outro.
O sentimento
profundo que faz o ser humano despertar da existência inautêntica é a angústia,
pois ela revela o quanto nos dissolvemos em atitudes impessoais, o quanto somos
absorvidos pela banalidade do cotidiano, o quanto anulamos nosso eu para
inseri-la, alienadamente, no mundo do outro.
O
mundo surge diante do homem, aniquilando todas as coisas particulares que o
rodeiam e, portanto, apontando para o nada. O homem sente-se, assim, como um
ser-para-a-morte.
A
partir desse estado de angústia, abre-se para o homem, segundo Heidegger, uma
alternativa: fugir de novo para o esquecimento de sua dimensão profunda, isto
é, o ser, e retornar ao cotidiano; ou superar a própria angústia, manifestando
seu poder de transcendência sobre o mundo e sobre si mesmo.
Aqui
surge um dos temas-chave de Heidegger: o homem pode transcender, o que
significa dizer que o homem está capacitado a atribuir um sentido ao ser (CHAUI,
em HEIDEGGER, Conferências e escritos filosóficos, p. 10).
A angústia e
o nada
"A angústia é o caráter típico e
próprio da vida. A vida é angustiosa. E por que é angustiosa a vida? A angústia
da vida tem duas facetas. De um lado, é necessidade de viver, é afã de viver, é
anseio de ser, de continuar sendo, para que o futuro seja presente. Mas, de
outro lado, esse anseio de ser leva dentro o temor de não ser, o temor de
deixar de ser, o temor do nada. Por isso, a vida é, de um lado, anseio de ser e,
de outro lado, temor do nada. Essa é a angústia. Pois o nada amedronta o
homem." (García MORENTE, Fundamentos de filosofia, p.311).
BIBLIOGRAFIA: (COTRIM, G.
Fundamentos de filosofia. São Paulo: Saraiva, 2010).
Muito bom, recomendo.
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