O
moderno Estado de Israel é o resultado espetacular de um conjunto das iniciativas mais inteligentes, mais arrojadas e intrincadas no fim do milênio passado. Tudo começou com o movimento sionista dos fins do
século XIX que visava à concentração demográfica de judeus na Palestina.
Ao
proclamar, em 1791, a emancipação política dos judeus, a Revolução Francesa marcava o início de uma nova fase da história judaica. Começou então a aumentar consideravelmente o poder dos judeus, cuja influência se fazia sentir, cada
vez mais, nas finanças, na imprensa, nas profissões liberais etc.
Na Europa Ocidental, muitos judeus aceitaram a ideia do hascalá (Iluminismo), que defendia a integração dos judeus à cultura ocidental. No Leste, porém, os judeus, contrários à assimilação
e vítimas dos progoms czristas, formaram o movimento Hoverim Ziyyon (Amantes de Sião) visando à criação de uma pátria judaica. O fundador do sionismo político foi Theodor Herzl, jornalista austríaco
judeu que,
profundamente impressionado
com as manifestações anti-semitas na Europa, percebeu, depois de muitas tergiversações, que
a única solução seria a criação
de uma nação
judaica em Estado próprio. Herzl, depois de muita luta, logrou organizar o primeiro congresso sionista em Basiléia, na Suíça
(3/9/1897), acontecimento decisivo de uma série de medidas ousadas que
se seguiram. Foram criados o Fundo Nacional Judaico
e o Banco Nacional Judaico. Por intermédio do Fundo Nacional Judaico, é adquirido dos árabes
parte do solo palestino, alugado então a judeus emigrados, a quem se forneceram os meios necessários para
iniciarem a sua vida. O movimento aliah ("subida", "leva imigratória
para Israel") intensifica a imigração. Começam
a chegar à Palestina levas de imigrantes judeus, egressos
da Europa Central e Oriental. O líder nesse momento
é Aharom David Gordan, que inspira a mística do trabalho hebreu pela redenção econômica
e social de Israel. Estabeleceram-se colônias coletivas,os Kibutzim e moshavim. Fundou-se a Histadrut, de inspiração socialista, poderosa
central
sindical com forte influência na vida econômica, social e política,
que constituiu as bases da comunidade judaica, com seus próprios organismos
de direção.
Os árabes reagiram
muitas vezes por causa
da invasão dos judeus, e o governo turco, que dominava a região, tentou
repetidamente obstar a imigração judaica.
No fim da Primeira Guerra Mundial, a Inglaterra conquistou a Palestina
aos turcos. A Liga das Nações outorgou
à Inglaterra mandato sobre a Palestina.
Em 1917, Lord Balfour, governador inglês da Palestina, reconhece
o direito judeu ao estabelecimento de um lar nacional na Palestina, sem prejuízo das coletividades
não-judaicas da região. Nessa época
surgiu a liderança
de Chaim
Weizmann, que se dedicou totalmente à causa do sionismo, mantendo contato com o governo britânico e os líderes árabes.
Em 1922 a Inglaterra
separou a Transjordânia
do resto da Palestina,
criando o Reino Hachemita
Independente. Com isso ficou reduzida a áreas em que os judeus poderiam estabelecer seu lar
nacional juntamente com os demais palestinos. Aos poucos, porém, os árabes aumentaram
sua oposição à
ideia da criação do Estado judaico,
e o governo mandatário fez cada vez mais restrições à imigração e ao estabelecimento
judaico na Palestina. Crescia o antagonismo entre os nacionalismos árabe e judeu, verificando-se choques e distúrbios.
Surgiu então a Haganah (defesa), organismo judaico de autodefesa.
Graças
ao trabalho de Eliezer
Ben-Iehudá, a língua hebraica foi ressuscitada como língua oficial de Israel. Em 1916 foi criada a Universidade Hebraica. Multiplicavam-se as
colônias coletivas. Em 1922 foi
publicado o Livro branco de Winston Churchill, ministro das colônias
do governo britânico, restringindo oficialmente a imigração judaica. Os árabes palestinos, cujos anseios nacionalistas iam obtendo vitórias
no Oriente Médio, se opunham
categoricamente à imigração e ao Estado judaico. Em 1930,
foi publicado novo Livro branco britânico, que determinava que somente 75
mil imigrante judeus seriam ainda admitidos na Palestina, no espaço
de cinco anos, ao cabo dos quais
o mandato seria extinto
e criado o governo local de maioria árabe. Em 1929 e 1936 irromperam
violentos distúrbios, ao mesmo tempo em que milhares de imigrantes buscavam
a Palestina fugindo da ameaça
do nazismo.
Em
1937, uma comissão chefiada por Lord Peel publicou
um relatório recomendando
a partilha da Palestina entre árabes
e judeus - caberiam aos judeus 3.200 km2, Chaim
Weizmann via na proposta um reconhecimento
da necessidade de um Estado judaico, mas achava o território
muito pequeno. Os árabes rejeitaram
a recomendação porque achavam exagerado
o território que os judeus consideravam ínfimo.
A Haganah e outras
forças judaicas lançaram-se à organização da imigração ilegal (aliah bet). Burlando a vigilância dos soldados britânicos,
faziam aportar à noite às costas da Palestina
barcos com refugiados judeus.
Ao
fim da Segunda Guerra,
a tragédia do Holocausto despertou na
Europa
uma consciência de culpa. A ideia da criação de um lar judaico na Palestina
começou a consolidar-se. Os líderes sionistas, notadamente David Ben-Gurion e Moshé Sharet, souberam aproveitar a ocasião. Com o endosso
do presidente Truman, foi recomendada a admissão imediata de 100 mil refugiados
judeus na Palestina.
O governo
britânico manteve o veto
do Livro branco de 1930. Recrudesceram
os conflitos árabes-judeus. Em 2 de abril de 1947, o governo britânico, declarando-se impotente
para solucionar o problema, transferiu-o para a Organização das Nações Unidas. Em 1º de setembro de 1947, uma comissão especial de 11 membros da ONU recomendou a divisão da Palestina em dois Estados: um árabe e um judaico. A questão da Palestina
foi evada à Assembleia Geral da ONU, presidida
pelo
brasileiro Oswaldo Aranha. No dia 29 de novembro de 1947, foi
votada a partilha da Palestina,
com a criação do Estado judaico, que abrangeria 14.240
km2, com uma população de 536 mil judeus
e 397 mil árabes. O restante do território palestino seria um Estado
árabe que abrigaria 804 mil árabes e 10 mil judeus.
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BIBLIOGRAFIA
(TERRA, J. A questão da Palestina. São Paulo: Loyola, 2004)
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