Na
indústria, o indivíduo é ilusório não apenas por causa da padronização do modo
de produção. Ele só é tolerado na medida em que sua identidade incondicional
com o universal está fora de questão. Da improvisação do jazz até os tipos
originais do cinema, que têm de deixar a franja cair sobre os olhos para serem
reconhecidos como tais, o que domina é pseudo individualidade. O individual
reduz-se à capacidade do universal de marcar tão integralmente o contingente
que ele possa ser conservado como o mesmo. Assim, por exemplo, o ar de
obstinada reserva ou a postura elegante do indivíduo exibido numa cena de
determinada é algo que se produz em série exatamente como as fechaduras Yale,
que só por fracos de milímetros se distinguem umas das outras. As particularidades
do eu são mercadorias monopolizadas e socialmente condicionadas, que se fazem
passar por algo natural. Elas se reduzem ao bigode, ao sotaque francês, à voz
grave de mulher de vida livre (...): são como impressões digitais em cédulas de
identidade que, não fossem por elas, seriam rigorosamente iguais e nas quais a
vida e a fisionomia de todos os indivíduos – da estrela de cinema ao
encarcerado – se transformam, em face ao poderio do universal. A
pseudo-idividualidade é um processo para compreender e tirar da tragédia sua
virulência: é só porque os indivíduos não são mais indivíduos, mas sim mera
encruzilhadas das tendências do universal, que é possível reintegrá-los
totalmente na universalidade. A cultura de massas revela assim seu caráter
fictício que a forma do indivíduo sempre exibiu na era da burguesia, e seu
único erro é vangloriar-se por essa duvidosa harmonia do universal e do
particular.
ADORNO e HORKHEIMER. Dialética do esclarecimento
que lindo...me emocionei....
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