quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A CRIAÇÃO para o grego

No início era o Kháos (Caos). Um vazio, escuro onde não se distingue nada. Espaço de queda, vertigem e confusão, sem fim, sem fundo: um abismo.Depois apareceu Gaîa (Terra). Foi no próprio seio do Caos que surgiu a Terra. Portanto, nasceu depois de Caos e representa, seu contrário: de forma distinta, separada, precisa. À confusão de Caos se opõe a a nitidez de Gaîa; o sem fundo de Caos, a estabilidade de Gaîa.

Na Terra tudo é desenhado, tudo é visível e sólido. É possível definir Gaîa como o lugar onde os deuses, os homens e os bichos podem andar com segurança.

Depois de Caos e Terra, aparece o Éros (amor), representado nas imagens com cabelos brancos. É o Amor primordial. Nesses tempos longínquos, ainda não há masculino e feminino. Kháos é uma palavra neutra, e não masculina. Gaîa é evidentemente feminina. E como a Terra não pode amar fora de si mesma (porque não a quem a amar), o Éros primordial expressa um impulso no universo. Da mesma forma que Terra surgiu de Caos, de Terra vai brotar o que ela contém em suas profundezas. Terra vai parir sem precisar se unir a ninguém. Ela dá à luz o que nela existia de forma obscura, latente.


Primeiro, Terra trás à vida Ouranós, o Céu; depois Póntos, a Água (a Onda do Mar), que são masculinos. Ao produzir o Céu, igual a si e do mesmo tamanho, a Terra tem sobre ela um outro plano, o seu oposto superposto a ela, um chão e uma abóbada, um embaixo e o outro em cima, que se cobrem completamente. Em relação à Onda do Mar, que também lhe é contrário, suas águas invadem a Terra e a torna confusa. Na superfície, Ponto é luminoso; em sua profudenza, escuridão; nisto se vincula à Terra, em sua parte caótica.


Assim, o universo se constrói a partir de três entidades primordiais: Kháos, Gaîa e Éros, e, em seguida, de duas entidades paridas por Terra: Ouranós e Pontós. Elas são ao mesmo tempo forças naturais e divindades.

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Fontes: (Cf.VERNANT, O universo, os deuses, os homens, 2000, pp.17-20)

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