Somos corpo, alma e espírito. O corpo faz-nos presentes ao mundo. A alma abre-nos o campo dos afetos. Pelo espírito, transcendemos para os horizontes infinitos. A ecologia, ao afetar-nos o corpo, leva-nos a sonhar com um mundo que nos encante com sua beleza. A ecologia, ligada à alma, desperta-nos o cuidado para com todas as coisas que nos cercam e cativam.
E o espírito? As imagens de profundidade e de altura servem-nos para captá-la na sua densidade. Ele mergulha no mais profundo de nós mesmos e de lá aspira a realidades que nos plenifiquem. O espírito é o que há de mais interior em nós mesmos e lá encontramos o próprio Deus, diz-nos santo Agostinho. Olhamos para o mundo e julgamos por demais superficial o consumismo desvairado. A montanha de coisas não nos cobre o· abismo de desejo de sentido, de vida, de amor. Contemplamos, desde essa profundidade, o mundo com outros olhos.
O espírito busca píncaros. O mesmo Agostinho continua. O espírito é o que há de mais sublime em nós. E aí, nessas alturas, encontramos o Espírito de Deus. Mergulhamos no azul do céu em direção a alturas nunca atingidas. A espiritualidade ecológica trabalha com essas dimensões de profundidade e de altura. E é movida pelo desejo de harmonia, de beleza, de contemplação. De novo, a etimologia vem-nos iluminar. O termo desejo [de + sideribus] esconde dentro de si o étimo sidus, sideris, estrela. O desejo fala de estrelas. E elas simbolizam simultaneamente a beleza e a inacessibilidade misteriosa.
Um mínimo toque de mística leva-nos a extasiar-nos em face do céu estrelado. A distância das estrelas impede-nos de possuí-las e estragá-las, como fazemos com a Terra. Permanecem na eterna beleza e pureza de seu mistério. Só atingidas pela contemplação.
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FONTE; (J. B. Libanio, sj. In: O Domingo – Semanário litúrgio-catequético. Nº43, 12/09/2010)
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