A produção de bens é socializada: capital e trabalho
juntam-se para produzi-los. Não existem capitalistas sem a
contribuição dos trabalhadores. No entanto, é individualizada a partilha de
tudo que é produzido. Alguns lucram muito, outros recebem salários reduzidos.
São desigualdades que atingem os trabalhadores, capacitados ou não, em todos os
níveis profissionais. Nos países subdesenvolvidos e entre os imigrantes nos
países do Primeiro Mundo, elas são mais evidentes e contrastantes.
Na
esteira das desigualdades sociais, manifestam-se as discriminações. De modo
geral, há preferências pelos que têm mais dinheiro, mais estudo, mais
juventude, mais beleza, em detrimento dos pobres, dos
idosos, das mulheres, dos deficientes físicos. Trata-se, pois, de preconceitos
sociais.
Existem sérias distorções na organização material da sociedade capitalista, e o bem-estar que deveria ser de todos
torna-se privilégio de poucos. Estamos cara a cara com a fome, falta de
trabalho, sistema educacional deficitário, hospitais mal-equipados, transportes
coletivos precários, estradas malconservadas, crianças abandonadas, mau uso dos
recursos públicos. Os grandes problemas que afetam a coletividade crescem e não
recebem soluções satisfatórias.
A complexidade da sociedade moderna comporta relações de
extrema desigualdade. Fruto do descaso dos governos e da
exacerbada exploração capitalista, a marginalidade social alastra-se no espaço
público: crianças drogam-se abertamente, catadores de lixo vivem dos restos que
carregam. Situações dramáticas, reveladoras de desníveis sociais cada vez mais
contrastantes, o desemprego estrutural, as injustiças irreparadas, os atentados
contra a vida geram conflitos sociais permanentes e aprofundam a tensão entre o
indivíduo e a sociedade.
Nas três últimas décadas deste século, o crescimento dos
índices de desemprego é uma tendência constante e
irreversível em muitos países, em razão das transformações no modo de produção capitalista e das
políticas neoliberais correntes, as quais retiram do Estado o compromisso de
atendimento às necessidades básicas das populações. Chama-se desemprego estrutural quando é
conseqüência da introdução de máquinas computadorizadas no processo de
trabalho, dispensando trabalhadores.
As
conseqüências do processo de globalização - extensão e expansão das atividades
econômico-financeiras, respaldadas por acordos políticos estabelecidos entre as
nações - são graves e acentuam os problemas do quadro de desigualdades já
existentes. A desigualdade se instala entre os indivíduos habilitados ou não,
entre os grupos e setores econômicos, entre as regiões no interior dos países
e, principalmente, entre os próprios países. Na verdade, a globalização se
apresenta como uma nova e histórica forma de dependência econômica e política
entre as nações. Vemos, também, que a introdução de inovações para produzir
bens e organizar o trabalho dá-se de modo desigual, gerando diferenças. Tende,
inclusive, a expandir e padronizar a miséria. Estudiosos renomados afirmam que,
diante do desemprego alarmante e da fome que grassa em muitas regiões do mundo,
a globalização agrava o processo de exclusão social. Ou seja, são mínimas as
chances de parcelas cada vez mais significativas da população mundial terem
acesso aos bens e benefícios da sociedade, por viverem à margem da dignidade
humana.
(AAVV. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2002, pp. 133-134)
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