A violência é hoje parte de nosso cotidiano:
de maneira direta ou indireta, diariamente, somos expostos a todo tipo de
informação alusiva a atos de violação à integridade física, psicológica e moral
de outros seres humanos por meio dos noticiários televisivos, da mídia
impressa, do cinema, das séries policiais e da própria realidade à nossa volta.
Somos testemunhas de atos violentos, conhecemos pessoas que foram vítimas e também
agressoras, ou somos nós próprios vítimas ou responsáveis por ações que deixam sequelas
físicas e psicológicas. Por essa razão, tratar do tema violência envolve
sempre o risco da sua banalização e do uso do senso comum. Pensar o problema de
maneira sociológica requer, antes de tudo, adotar um distanciamento apropriado,
procurando analisá-lo sob um enfoque objetivo.
Texto 1: Pais de estudante agridem diretor de escola e ameaçam
crianças e professores em Minas Gerais
Os pais de um dos estudantes de
uma escola estadual em Jurisprunópolis, interior de Minas Gerais, estão
deixando alunos e professores amedrontados. Os dois têm ameaçado de agressão
outros pais e também alunos e professores. O diretor da unidade chegou a ser
agredido. O estudante tem 13 anos e seus pais vão constantemente à escola e
fazem ameaças a crianças de 5ª a 8ª séries. Um professor, que não quis ser
identificado, contou como ocorre a intimidação.
- Ele (pai) me chamou de palhaço e
perguntou se eu achava que o filho dele não tinha pai. Ele disse que eu bati no
filho dele, mas eu não fiz isso - afirmou.
O caso mais grave, porém,
aconteceu com o diretor da escola. Ele levou um soco do pai da criança e
denunciou o caso à polícia.
- Eu, de repente, senti apenas o
impacto do golpe. Em comum acordo, nós decidimos entregar à família do menino o
documento de transferência dele para outra escola. A decisão é coletiva -
lembrou a vítima, ainda com os lábios inchados.
De acordo com a coordenadora
pedagógica, uma equipe multidisciplinar será formada para tentar resolver a
situação.
O que é violência
para a sociologia
É importante
ter em mente que, tal como diversos
outros conceitos da Sociologia, não há uma definição única sobre o que seja
violência, aceita de forma unânime pelos sociólogos em geral; diferentes
autores a abordam sob enfoques diversos. Por essa razão, procuraremos começar
por uma concepção geral, embasada na literatura sociológica. Essa noção,
entretanto, não deve ser entendida como um conceito fechado e acabado, mas,
sim, aberto ao debate e à reflexão crítica.
É possível
que algumas ações violentas não sejam consideradas formas de violência, mas
apenas agressões, xingamentos ou atos correlatos. Isso porque o senso comum
tende a não identificá-las como agressões, dado que a violência é geralmente relacionada
a atos criminosos, ou a atos que geram danos físicos para a pessoa que sofre a
ação violenta. Porém, como discutiremos a seguir, a violência envolve muito
mais do que as agressões físicas que levam aos ferimentos ou à morte e, pela
concepção que defenderemos aqui, todas as expressões de agressões, xingamentos
ou atos correlatos podem ser consideradas formas de violência.
Por quê? Porque em todas as
situações exemplificadas estão envolvidos seres humanos que, de uma forma ou de
outra, foram afetados física, psicológica ou moralmente pelas ações perpetradas
por outros indivíduos. Esta é a ideia central para a compreensão da violência:
a noção de que ela constitui uma ação que causa alguma forma de dano a
outro ser humano, direta ou indiretamente.
Segundo a Organização Mundial da
Saúde (OMS), no Relatório Mundial sobre a Violência e Saúde. Genebra,
2002, a violência pode ser definida como: o uso intencional de força
física ou do poder contra si mesmo, outra pessoa, um grupo ou uma comunidade.
O uso da força ou do poder pode ser:
a) real, ou seja, quando chega às vias de
fato e resulta em dano;
b)
em
forma de ameaça, isto é, quando representa alta probabilidade de causar
dano psicológico, lesão, deficiência de desenvolvimento, privação ou morte.
A violência pode ser entendida
como a ação de um indivíduo ou grupo contra uma ou mais pessoas a fim de causar
danos. Essa violência pode ser direta, quando atinge imediatamente o corpo da
pessoa que a sofre; ou indireta, quando se dá por meio da alteração do ambiente
no qual ela se encontra; ou ainda, quando se retiram, destroem ou danificam os
recursos materiais. Tanto a forma direta quanto a forma indireta prejudicam a
pessoa ou o grupo alvo da violência. Além disso, existe violência quando a ação
causa constrangimentos não apenas físicos, mas também psicológicos e morais.
Finalmente, é preciso incluir a violência simbólica, que não causa a morte
física, mas atenta contra as crenças, a cultura e a própria identidade dos
indivíduos que dela são vítimas. Concluindo, entende-se como violência tudo aquilo
que não é desejado pelo outro, e que lhe é imposto pela força concreta ou
simbólica (falta do necessário à vida;
necessidade, fome, miséria).
Os atos violentos não são necessariamente
realizados por indivíduos de forma isolada, mas podem ser desempenhados por grupos
organizados ou não (como milícias e exércitos) e Estados, por exemplo.
As ações podem ser dirigidas não às
pessoas, mas às propriedades, causando prejuízos financeiros e consequncias sérias,
como no caso da destruição dos campos de cultivo e colheitas. Finalmente a perseguição
e repressão por causa de crenças religiosas, por exemplo, seria um caso de violência
sobre as participações simbólicas e culturais de uma população na vida de uma sociedade.
Dessa forma:
- violência organizada. Exemplo:
invasão de Exército;
- Violência de grupo: vandalismo
urbano;
- violência contra a cultura e a
religião de um povo: destruição de templos e imagens.
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FONTE: (SP-SEE. Caderno do professor: sociologia, EM 2ª série, vol.4. São Paulo: SEE, 2009, pp.13-15)
FONTE: (SP-SEE. Caderno do professor: sociologia, EM 2ª série, vol.4. São Paulo: SEE, 2009, pp.13-15)
Muito bom!!!!
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